quarta-feira, 13 de março de 2013

Semideuses! Arre!

Foto: https://www.flickr.com/photos/eleni_pap


Tiraram-me o direito de sentir. Eu, logo eu, que não passo um dia sequer da minha vida sem a necessidade sufocante de transformar meus sentimentos em palavras para ver se desafogo esse coração tão cheio. Eu perdi o direito de sentir... Nem dor, nem raiva, nem mágoa, nem pena, nem compaixão. Nem, sequer, uma fagulha de arrependimento ou uma tentativa de resignação. Não posso sentir nada, nada.

Os outros podem. Eles podem sentir medo, raiva, rancor, insegurança. Podem se sentir humilhados, magoados, traídos. Mas eu, eu não, nunca, jamais. Isso não é postura, não é o que esperam de mim. Eu deveria mesmo levantar a cabeça e seguir em frente sem titubear, não importa o que aconteça. Esquecer sentimentos. Esquecer, até mesmo, que sou capaz de sentir. E de reagir.

São todos tão fortes, centrados, equilibrados. Todos tão, tão sensatos, bons, humildes. Sempre certos, controlados. Como eu ouso sentir? Como? Como eu ouso dizer que sinto? Pessoa, Pessoa, tens razão, ninguém nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu um enxovalho. Semideuses. Arre!

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