quarta-feira, 19 de junho de 2013

O preço que se paga pela omissão



Antes de qualquer coisa quero dizer que sou categoricamente contra a violência, seja de manifestantes seja de policiais. Sou contra o vandalismo, a depredação, as pichações. Elas acabam não apenas custando mais aos cofres públicos, como machucando pessoas inocentes.

Mas após seis dias de protestos não vi um político que fosse dar alguma declaração para tentar resolver o problema. As únicas declarações foram elogiando a atuação infeliz da PM em quase todas as cidades. Diante de tanta omissão, sinceramente, acho que querer calma é pedir demais do povo. Depois que a policia sentou a porrada em todo mundo, pedir que as pessoas fiquem tranquilas esperando os governantes pararem de se borrar na calça e tentem alguma solução é um teste de paciência imenso.

Não quero defender o vandalismo. Mas detesto esse discurso de que ele invalida o movimento. Primeiro, porque ninguém tem sangue de barata para aguentar esperar a boa vontade do governo. Segundo, porque no Brasil parece que as coisas só funcionam quando a coisa fica feia, muito feia. E, por fim, porque, ainda bem, existe muito mais gente com boas intenções do que com más. Gente disposta a inibir esses atos depredatórios e a reparar os danos causados.

Toda ação tem uma reação. E a omissão é a mais irritante das ações.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Por que mesmo você é contra, hein?



Eu não consigo entender, realmente não consigo, as razões que algumas pessoas têm para serem contra os protestos. Não estou dizendo que essas pessoas não têm direito de ser contra, só não encontrei até agora nenhuma razão para isso.

Será que elas estão satisfeitas com o nosso governo? Talvez elas não vejam nenhuma razão em protestar contra o fato de gastarmos 40 bilhões em uma Copa do Mundo, enquanto outros países gastaram menos de um terço disso. Ou não veem nada de mais em escândalos como o mensalão. Às vezes, o ônibus que elas andam é vazio, tem ar condicionado, bancos intactos e passa sempre na hora; o lugar onde elas moram é seguro, elas podem caminhar tranquilamente a qualquer hora do dia ou da noite;  a escola pública perto da casa delas tem merenda, bons professores, instalações de primeira e um sistema de ensino exemplar; ou elas frequentam um hospital público com estrutura, médicos, leitos, medicamentos. Talvez elas acreditem que não existe nenhum problema em acabar com o poder de investigação do Ministério Público que, verdade seja dita, muitas vezes é mais eficiente do que a polícia; ou concordam em desalojar pessoas pobres de suas casas para limpar a área ao redor dos estádios.

Será que elas ainda acreditam que tudo não passa de um movimento partidário para derrubar o governo? Pode ser que elas não tenham entendido que isso tudo não tem nada a ver com partido, religião, gênero, orientação sexual, raça, time de futebol, ou qualquer tipo de segregação. Eu posso dizer porque eu estava lá, esse movimento não tem bandeira, não tem liderança, ele tem vontade. Apenas uma vontade imensa e reprimida por anos de lutar por um Brasil melhor. Essa luta tem a ver com uma nação insatisfeita com tanto problema, com tantos absurdos e com tanta inércia.

Será que elas só estão bravas com o vandalismo de alguns (poucos, repito, muito poucos)  manifestantes? Acho que elas não perceberam que a maioria esmagadora também não concorda com essas atitudes. Mas, infelizmente ainda não inventaram uma fórmula mágica para controlar uma multidão de 100 mil pessoas sem que nada seja danificado. Não existe revolução sem um preço e acredito, sinceramente, que o preço que estamos pagando ainda é muito baixo em comparação aos frutos que podemos colher. Não concordamos em quebrar, xingar ou depredar. Não concordamos com nenhum tipo de violência. Felizmente existem muito mais pessoas conscientes e pacíficas do que vândalos. E quem quiser uma prova disso, basta ver esse vídeo ou ler essa matéria.

Será que elas acham que isso tudo é contra a Copa, contra a seleção e só estraga a festa brasileira do futebol? De repente, elas não entenderam ainda que não temos nada, absolutamente nada contra a seleção brasileira. Que muitos de nós que fomos para as ruas, gostaríamos de estar no estádio torcendo pela nossa seleção também. Só não queremos ser patriotas apenas na Copa, queremos ser patriotas sempre. Não queremos ser coniventes com tantos gastos desnecessários com estádios enquanto nossa população ainda tem fome. Ainda amamos futebol, pelo menos grande parte de nós, mas não temos o que festejar, ele não está acima do nosso bem estar. Isso não tem nada a ver com o esporte, tem a ver com uma grande e urgente vontade de parar com tanta corrupção.

Ninguém é obrigado a ir para as ruas protestar, nem postar no Facebook, nem mesmo conversar sobre o assunto. Mas, confesso, para mim é muito difícil entender porque alguém consegue ser contra uma multidão de pessoas que está tentando melhorar as coisas para todo mundo, inclusive para quem está reclamando.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O país do swingue é o país da contradição




Por anos escutei as pessoas reclamarem da passividade do povo brasileiro. Escândalos atrás de escândalos e não fazemos nada para mudar. Entram eleições, saem eleições e os mesmos estão no poder. O povo não se mobiliza. O povo, essa entidade despersonalizada, sem nome, nem endereço. A geração dos nossos pais, sobreviventes à ditadura, sempre mostrando o quanto nós, jovens de hoje, somos coniventes com tudo, não nos mobilizamos, não saímos de frente do computador. Porque na França, no Egito, na Turquia, em Marte, lá sim eles sabem protestar, lá sim eles exigem seus direitos. Lá, o povo sabe reclamar.

Pois bem, o povo saiu da internet e foi para as ruas. Por causa de míseros R$ 0,20 a paciência chegou no limite, esgotou. Sim, o povo brasileiro, como o francês, aqueles que sabem protestar, resolveu colocar a cara a tapa. Mas esse mesmo povo, antes passivo e apático, virou bandido. Aqueles mesmos que acusavam o povo de inerte, agora acusam de baderna. Porque o povo brasileiro tem que protestar em silêncio, não pode atrapalhar sua volta pra casa no seu carro automático e com ar condicionado, não pode sujar a rua, nem quebrar vidros. Na França pode até virar ônibus, eles tem uma causa. Aqui são só R$ 0,20. E não justifica tudo isso por essa mixaria. Aliás, nem justifica esse bando de gente que nem transporte público usa, ir fazer protesto contra o aumento das passagens. Cada um com seus problemas, e o conceito de democracia é jogado pelo ralo.

Pior ainda, o povo escolheu uma péssima hora para resolver reagir; estragando a festa brasileira, a tão esperada e venerada Copa do Mundo no Brasil. Tudo errado, tudo errado. O povo brasileiro deveria mostrar para os gringos o quanto somos felizes, hospitaleiros e imbecis de acharmos normal gastar 33 bilhões com uma Copa do mundo e não termos hospitais.

O primeiro absurdo nessa história toda é jogar a culpa em cima do povo. Quem é esse povo? Esse povo não sou eu, você, o PM, seus filhos e todos que pagam impostos, elegem os governantes, são cidadãos? Não somos nós esse povo que não ia às ruas, não reclamava? E não somos nós esse mesmo povo que está com a paciência esgotada, que quer ver uma mudança urgente? Então porque essa mania de despersonalizar a culpa, ao invés de assumi-la? Ao invés de admitir que somos nós que não nos mobilizamos? Somos nós que aguentamos por anos escândalo atrás de escândalo, corrupção atrás de corrupção, injustiças, absurdos, abusos, dentre outras coisas. E somos nós que não fizemos nada para mudar isso. Portanto, não se esconda atrás do povo brasileiro, pois você é o povo brasileiro e somos todos culpados pelos governantes que temos, pelos problemas que temos, por essa nossa cultura do jeitinho que confunde malandragem com esperteza.

Acontece que nós, povo, não aguentamos mais ter que pagar caro por um transporte público que não funciona; ter que pagar escola particular e plano de saúde, por o que é público é de péssima qualidade; ter medo de sair na rua; ter estradas esburacadas e perigosas, só para citar alguns dos problemas. E somos nós, povo, que estamos indo para a rua protestar. Não é O POVO brasileiro, despersonalizado, somos nós, todos nós que pagamos nossos impostos e não vemos retorno, que queremos morar em um país melhor.

Portanto, não espere um protesto silencioso, ele não vai acontecer. Quebrar, depredar, estragar não são corretos. Mas ferir, prender injustamente, perseguir e espancar também não são. Morrer em hospitais, não ter cadeira nas salas de aula, passar fome, são menos ainda. E se for preciso pagar um preço para ter um país mais decente, teremos que pagar. Não haverá manifestação na calçada, que irá parar nos sinais e faixas de pedestre pra você passar. Você vai chegar atrasado para buscar seu filho, vai ouvir palavrões na rua, não vai conseguir assistir sua novela. Mas graças a esses baderneiros pode ser que o seu dinheiro seja melhor aplicado, que você possa deixar o carro em casa para usar o transporte público, que seu filho posso brincar na rua sem medo. Então, ou estaciona seu carro na esquina e vai para a rua, ou vai ler uma revista e não atrapalha quem está lutando por um país melhor para você e sua família.

Não espere que um trabalhador que fica mais de 8 horas por dia no trabalho, que pega 2 conduções e leva mais 2 ou 3 horas voltando para casa, tenha tempo para ir para a rua protestar. Ele tem que ir para casa dar atenção para o filho pequeno porque não pode pagar ninguém para cuidar ou, quem sabe, começar uma jornada dupla de trabalho, em casa ou em outro emprego. Isso se ele tiver alguma ideia do que está acontecendo, se ele tiver uma visão que o faça enxergar além do que a grande mídia mostra, se ele tiver um nível educacional e crítico que o permita avaliar as mudanças que estão acontecendo. Mas eu, você, seu filho, seus amigos, nós que não usamos transportem público, temos plano de saúde e estudamos nas melhores escolas do país; nós que não levamos nem meia hora do trabalho até em casa e podemos pagar alguém para ficar com nossos filhos por mais uma ou duas horas eventualmente; nós que estudamos, lemos, viajamos, temos acesso a cultura; nós podemos ir juntos às ruas reivindicar direitos que atingem a todos. Podemos gastar 2 ou 3 horas do nosso dia lutando por um lugar mais justo, mais digno para se viver. Lembre-se que para nós, estudar em uma universidade pública foi apenas obrigação para quem teve condição de ter um ensino privado de qualidade. Mas o filho do seu porteiro, que usa o transporte público lotado e péssimo para ir a uma faculdade privada e de qualidade duvidosa, não tem como ir para a rua protestar, porque provavelmente ele ainda trabalha para pagar a faculdade. Ou seja, obrigação dobrada para nós, privilegiados da classe média brasileira que ao invés de ajudarmos só reclamamos.

Por fim, não existe festa brasileira do futebol e cara bonita para a imprensa lá fora quando se gasta bilhões na construção de estádios que serão subaproveitados, enquanto a população se ferra. A FIFA é uma das instituições mais corruptas que existem, isso não é segredo para ninguém. Juntando isso ao governo brasileiro, historicamente ladrão, temos uma máfia formada. Então, não me venha falar de festa e sorrisos enquanto nossos hospitais não tem leito, não tem médicos, não tem medicamentos; enquanto nossas escolas não tem cadeiras, não tem professores, não tem merenda; enquanto nosso transporte público está lotado e sucateado; enquanto nós não pudermos andar nas ruas sem ter medo de bandido de verdade. Não venha me dizer que toda essa "baderna" é ruim para a imagem do país lá fora. Ruim para nós é ter policia batendo em estudante, gente morrendo em hospital por falta de atendimento, criança sem ter o que comer na escola.

Isso não é briga de partido, não é disputa entre vermelhos ou azuis, há tempos que essa divisão partidária no Brasil deixou de ter sentido. Também não é uma greve, não existe uma lista de reivindicações. Essa é a luta de 8 milhões de brasileiros por um país coerente, menos corrupto, mais preocupado com o bem estar da população. O Brasil resolveu mostrar a cara, dizer a que veio, mostrar ao mundo que cansamos do pão e do circo. A gente quer justiça. Não adianta "deixar para protestar nas urnas", estamos cansados de saber que nossas opções estão sempre entre o sujo e o mal lavado. Só nos resta ir para a rua, para a janela, para o Facebook, tanto faz, mas lutar com as armas que cada um tem. Lutar para que nossos filhos tenham orgulho de dizer que são brasileiros não por causa de uma seleção de futebol, mas porque vivem em um país que oferece condições dignas para sua população viver.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Poderia ser 1965, mas é 2013

Eu dormi na democracia e acordei na ditadura. Eu dormi em um país em que o protesto era permitido e a imprensa livre, acordei em um onde o povo reivindicar por seus direito é baderna e jornalista é bandido.

Baderneiro tem em todo lugar e é sempre um risco que se corre quando existe um aglomerado de pessoas, mas nada justifica o que vem acontecendo em SP e no RJ nos últimos dias. Nada.

Arrancar estudantes de dentro do hospital, feridos e passando mal por causa das balas e do gás da polícia, não é ordem. Atirar em jornalistas não é ordem. Cercar manifestantes que tentavam dispersar e fugir das confusão não é ordem. Prender quem carrega vinagre para se proteger do gás não é ordem. Conter com violência uma manifestação que pede direitos não é ordem.

Não são apenas 0,20 centavos que estão em jogo aqui. São, pelo menos R$ 10 mensais no salário de um trabalhador que vive com apenas R$ 600. É um país indignado por gastar 33 bilhões em uma Copa do Mundo, enquanto a saúde está um lixo, a segurança uma vergonha, dentre outros bilhões de problema. É um povo inconformando com tanta corrupção, com os gastos desnecessários, com as coisas feitas de qualquer jeito.

Acordei com muita vontade de chorar hoje, chorar de vergonha, chorar de raiva. Chorar pelo país que eu amo, mas me envergonha. Chorar pelo tempo perdido com estatutos absurdos, com leis sem lógica; pelas ocupações e desocupações injustas; pela violência nas ruas, dos bandidos e da polícia; pela saúde jogada às traças; por tanta roubalheira; pelo medo que tenho de andar na rua sem me preocupar; por morar em uma cidade que construiu o estádio mais caro da Copa, sem financiamento, e nem time tem para jogar; pelo descaso do governo com nosso dinheiro, nossa vida e nosso futuro; por saber que ano que vem tem eleições e vamos votar nos mesmos filhos da puta que estão aí, estragando tudo.

Uma coisa é boa nisso tudo, os olhos do mundo estão virados pra cá. Então é hora de protestar mesmo. De ir às ruas e mostrar lá pra fora que o buraco aqui é muito mais embaixo. Que a gente tem estádio, mas não tem médico, não tem segurança, não tem escola, não tem liberdade, não tem paz.

Espero, do fundo do meu coração, que outras cidades sigam o exemplo de RJ e SP. O brasileiro precisa aprender a exigir seus direitos.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Manifesto pela leveza

  1. Queremos viver sem amarras, âncoras ou jaulas.
  2. Somos contra as expectativas altas e o peso nos ombros.
  3. Somos a favor das risadas, da espontaneidade e do bom humor.
  4. Somos contra as cobranças e as inseguranças excessivas.
  5. Somos a favor de relações humanas mais leves e sinceras.
  6. Somos contra qualquer "ismo" que machuque ou pese: machismo, egoísmo, romantismo...
  7. Somos completamente a favor das declarações públicas de amor, mas muito mais a favor do carinho diário, íntimo.
  8.  Somos absolutamente contra os ciúmes e a inveja.
  9. Somos a favor da bondade, do zelo e do cuidado.
  10. Somos contra planos imutáveis e ideias engessadas, de qualquer tipo.
  11. Somos totalmente a favor de independência e da liberdade.
  12. Queremos deixar que as coisas fluam naturalmente e que a vida siga tranquilamente.