segunda-feira, 20 de julho de 2015

E se

E se o papo for ruim?
E se o beijo não for bom?
E se a gente não tiver nada a ver?
E se ele for ruim de cama?
E se ele não for carinhoso?
E se ele for infiel?
E se me fizer sofrer?

E se ele for o amor da minha vida?


terça-feira, 14 de julho de 2015

A gente cansa de tudo, até de ser forte




Em tempos de redes sociais, os olhos estão sempre voltados para a grama do vizinho e para o que achamos dela: verde, bonita e feliz. Ao mesmo tempo, ficamos tão preocupados em mostrar que nossa grama também é verde e ainda temos um lindo jardim, que nos esquecemos de viver nossa vida. Dessa forma, as pessoas vão construindo imagens umas das outras e acreditando nesses modelos como se fossem verdades absolutas.

"Você é uma mulher linda e forte, intimida os outros. Tanto os homens, quanto outras mulheres". Não foi a primeira vez que ouvi isso. E até acredito que realmente construí esse modelo, mesmo duvidando dele algumas vezes. De fato, gosto quando me dizem isso, ao menos fui bem sucedida na hora de vender a imagem que eu gostaria.

No momento que isso vira uma verdade sobre mim, fica muito difícil ser algo diferente da mulher forte e independente que me acostumei a ser. Parece que os olhares estão sempre voltados para ver a hora que você vai fraquejar e alguém dizer: eu disse que isso era só uma fase. E eu, tão orgulhosa de ser orgulhosa, não me permito falhar. Mas cansa.

Cansa ser forte o tempo inteiro. Cansa manter o sorriso e a cabeça erguida. Cansa ter medo de fraquejar e de parecer frágil. Cansa ter que provar o tempo inteiro que está tudo bem, tudo sob controle quando o que eu queria era só dar uma surtada, de leve, pra aliviar o coração. Cansa ter que engolir sapo, choro, angústia, frustração. Ter que vestir roupa colorida quando eu só queria estar de preto da cabeça aos pés.

Por hora, eu pretendo continuar sendo forte e independente. Mas me reservo o direito também de ser frágil e de querer alguém pra conversar bobagem, comer besteira e se enrolar no edredom comigo em um domingo a tarde. Me reservo o direito de chorar, de sonhar e de sentir. De sofrer por amor ou por saudade, de não querer sair sábado a noite, de desejar profundamente ter um coração quente de amor novamente. Me reservo o direito de quebrar em mil pedacinhos quando a vida me der alguma rasteira e de ter forças para juntar um por um, mesmo que isso doa, até estar forte e inteira novamente.

“Ele era um homem que parecia estar sempre prestes a partir. Se marcava um encontro, chegava três ou quatro horas atrasado, ou nem chegava, ou às vezes desaparecia durante dias ou semanas, sem deixar um número de telefone ou uma explicação. E o surpreendente era a facilidade, a compulsão, com que se podia amar um homem assim, como ele infundia uma sensação de espontaneidade próxima ao companheirismo - o quanto ele induzia uma pessoa à solidão que todos trazem consigo, a solidão que se vislumbra na expressão suplicante de estranhos num metrô meio vazio. Mesmo quando faziam amor e ele saía de dentro dela, mesmo então, minutos depois do gozo, tinha a sensação de perdê-lo. Certos homens, quando transavam com uma mulher, deixavam no corpo dela a marca da paixão, como uma criança crescendo em seu ventre. Podiam ficar longe um do outro por um ano, mas o corpo dela se sentia ainda cheio dos dois, cheio do amor entre eles. Chet deixava uma mulher vazia, cheia de saudade dele, cheia de esperança de que da próxima vez, da próxima vez… E quando ela compreendia que Chet nunca poderia dar o que ela desejava, a única coisa que ela desejava era ele. Sentiu lágrimas brotando-lhe nos olhos e lembrou-se de uma coisa que certa vez um amigo de Chet lhe dissera sobre a música dele - que a maneira como ele sustentava notas levava uma pessoa a pensar naquele instante que antecede o choro de uma mulher, quando seu rosto se enche de beleza até a borda, com água num copo, e um homem faria qualquer coisa no mundo para não tê-la ferido como a feriu. O rosto dela tão plácido, tão perfeito, você sabe que aquilo não pode durar, mas que aquele momento, mais que qualquer outro, encerra algo da eternidade: quando os olhos dela guardam a história de tudo quanto homens e mulheres já disseram uns aos outros. E é aí que ele lhe diz: ‘Não chore, não chore’, sabendo que essas palavras, mais que quaisquer outras no mundo, desatarão seu pranto…”

Geoff Dyer - Todo Aquele Jazz

Miopia




Bastaram cinco minutos de conversa para eu entender toda a sua angústia. Você namoraria com ele?, te perguntei. Sua resposta foi um rápido não. Mesmo assim passou boa parte do nosso jantar falando sobre o quanto a indiferença dele te incomodava. O quanto você queria que, dessa vez, as coisas funcionassem.

Eu, de minha parte, te observava. Sua boca e cada palavra que saia dela, seus olhos e cada vez que eles se cruzaram com os meus, seu rosto e cada expressão que você fazia (meu deus, como é expressiva!). Tentava escutar com atenção o que dizia, mas a verdade é que eu não tinha muito interesse.

Por favor, não me entenda mal. Tenho interesse em absolutamente tudo o que vem de você, menos em te ouvir falar de outro. Todas as vezes que você pronunciava o nome dele, mentalmente eu trocava pelo meu. Queria imaginar que você perdia suas noites por mim e passava horas dirigindo pela cidade pensando como seria nós dois juntos, como você gostava de fazer quando se apaixonava.

Mas meu recurso não funcionava muito bem pelo simples fato de que eu jamais seria indiferente a você. Eu jamais te deixaria sem resposta. Eu jamais recusaria um convite seu, fosse para um motel ou para o recital de ballet da sua prima de 4 anos. Eu jamais te deixaria sem mim.

Meu olhar devia estar muito perdido, porque você interrompeu sua história para reclamar que eu não estava prestando atenção. Sim, eu prestei. E também prestei atenção em todos os seus gestos, no seu cheiro, no som da sua voz. Prestei atenção no jeito que você mexe no cabelo quando está agitada e na forma como fala rápido quando fica ansiosa. Também prestei atenção nas suas pernas inquietas e nas suas mãos ... Prestei atenção nas batidas do seu coração e no rosado dos seus lábios. E o que eu acho disso tudo? Eu acho que você deveria deixar pra lá quem não te enxerga e prestar atenção em quem quer te fazer feliz.


domingo, 5 de julho de 2015

Um chá amargo



Já tinha virado um ritual: todas as vezes que sentávamos para conversar, eu precisava daquela xícara de chá de jasmim. Ele tinha gosto e cheiro de você, alguns dias suave, outros muito amargo. E eu sempre esquentava a água demais, talvez para desviar o foco da dor que você me causava.

Enquanto eu assoprava para tornar aquela queimadura menos agressiva, você tocou o meu rosto e disse: ninguém no mundo me faz feliz como você. Nem ousei levantar os olhos, sabia que não era verdade. Gabava-se de ser reservado e retraído, mas as palavras te saiam perfeitamente claras quando percebia que eu estava escorregando das suas mãos. Calava-se novamente quando sentia minhas mãos quentes encostando no seu corpo depois de alguma das suas promessas irrealizadas. E eu, tão apegada a paixões, me deixava levar por frases vazias.

Esquecia de todas as vezes que fiquei te esperando e você não apareceu, de todas as desculpas para não me encontrar, de todas as vezes que você voltava me prometendo a eternidade e não me dava um segundo. Sexta-feira a noite e eu estava ali, novamente, esperando a ligação que nunca aconteceu. Esperando que você me chamasse para aquele show que falamos em ir juntos. Ou que quisesse terminar os episódios daquele seriado que começamos a assistir. Nem o meu "oi" tinha resposta.

Suas fotos e comentários eram recados claros: estou em outra (ou em outras). "É um babaca", eu pensava, "não tem coragem de dizer na cara, prefere as indiretas". Que tola! Continuava achando que você fazia algo para me atingir quando, na verdade, você passava dias sem lembrar que eu existia. Aí, em algum fim de tarde de inverno, aparecia dizendo que precisava de uma xícara de chá para aquecer o coração. Mas a única coisa que você queria aquecer era seu corpo.  Mesmo assim, eu preferia acreditar nas falsas promessas e nas gotas de atenção a ter que lidar com a xícara vazia novamente. 

Tantos litros de chá depois e incontáveis queimaduras, eu percebi que, no fim, não era você que fazia eu me apaixonar, era a minha solidão que me fazia desejar ter alguém em quem pensar. E quanto mais longe você ficar, mais preenche meu vazio.