quinta-feira, 24 de abril de 2014

Três desejos

Faça três desejos, sejam eles quais forem.

- Uma estante de livros;
- Uma fonte inesgotável de suco de taperebá;
- E um peito para repousar.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O que você vê?

Olha pra mim. Mas olha de verdade. Olha no fundo dos meus olhos e me diz: o que você vê? Por favor, me diz que você enxerga algo além desse vazio que eu sinto. Diz pra mim que ali no fundo tem uma luz de esperança.

Me fala que você viu as tais borboletas. Conversa com elas, pede para elas ficarem, tenho certeza que atenderão seu pedido. Conta que você viu ali uma pontinha de carinho, um tantinho de entrega, um coração amolecendo, uma vontade de ficar e não de sair correndo como tantas vezes eu fiz.

Vai, olha direito e me conta. Fala que você viu paredes se colorindo e até uma névoa indicando que a temperatura ali dentro começou a subir. Viu dança, notas musicais. Diz que esse aperto no peito não é mais o laço da angústia, mas o da vontade. Não sei mais diferenciá-los.

Agora vem e me abraça, abraça forte, não me lembro a última vez que recebi um abraço tão bom assim. Me abraça e fica um pouco mais.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Transbordar

Andava com o coração assim, abarrotado de sentimentos sufocados e palavras não ditas. Suas emoções eram friamente calculadas, só soltava a conta-gotas. Quando percebia que não daria mais conta de segurar, mudava o barco de direção. Não queria correr o risco de enfrentar outra tempestade e naufragar de novo. Mas no fundo, no fundo, desejava que tudo isso transbordasse a ponto de perder o medo, o controle. A ponto de se perder.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Lua de sangue

Não lembro quem disse: só os apaixonados enxergam o coelho.  Mas recordo bem, foi você que me deu a lua pra te sentir por perto todas as vezes que a saudade apertasse.  Olha o queijão que mandei te entregar, você dizia.

E então a lua nunca mais foi a mesma pra mim. Conquanto quisesse chamar minha atenção fazendo, como uma bruxa, eu me afogar num mar de ressentimento e nostalgia, desviava o olhar para as estrelas. Aquele coelho traíra minha confiança inúmeras vezes. 

Hoje, encarei-a de frente. Era aquele mesmo queijão imenso, amarelado, hipnotizador. No lugar do coelho, só um monte de manchas disformes. Desejei com toda força que ela te levasse daqui, já passou da hora de te soltar. E que junto com você vá toda a mágoa. Deixa aqui comigo só as doces lembranças de um grande amor. Não sejamos mais tão injustos com a nossa história. 

domingo, 13 de abril de 2014

You know that I'm no good

Acordou azedo e foi dormir amargo.  Não se sentia parte daquela vida,  não encontrava seu lugar. 
Queria tudo ao mesmo tempo e, ao mesmo tempo, não queria ninguém. Cansou de colecionar corações partidos, ainda que nenhum deles estivesse ferido quanto o seu. Cansou de colecionar amores perdidos que só serviam para aumentar seu vazio. 

Encostou a cabeça no travesseiro, um pouco tonto das taças de champanhe do jantar. Queria relembrar sensação e resgatar sentimentos, mas não conseguia. Precisava se reencontrar, esse estado de embriaguez que o anestesiava durava tempo demais. 

O telefone tocou. Por mensagem, ela fazia mais uma das suas gracinhas que o deixava feliz. Ora era uma piada tão ruim que ele ria por achar fofa, ora era apenas uma das suas observações sarcásticas a respeito da vida.  Ela o fazia rir. Ela o fazia querer que a noite tivesse 36 horas. Ela o fazia ter vontade de não fazer nada em uma tarde chuvosa. No instante que percebeu isso, começou a tempestade de poréns na sua cabeça. 

Adormeceu. A mensagem ficou sem resposta. Nunca mais se falaram. 


sexta-feira, 11 de abril de 2014

Essa crueldade

Acontece que a vida é de uma crueldade difícil de aguentar. Não é justa, nunca foi.

Você conseguiu o emprego dos seus sonhos, mas terá que deixar o amor da sua vida.
Ela se apaixonou finalmente, mas ele não está disposto a largar seu espírito de carnaval.
Ele descobriu que será pai, mas não com a mulher que ama.
Vocês são almas gêmeas, mas ambas gostam de meninos.
Eles nunca mais se encontrarão de novo. Nunca.

Quem disse que seria fácil?

quinta-feira, 10 de abril de 2014

terça-feira, 8 de abril de 2014

Amar, um exercício

No fim das contas, descobriu que há sofrimento na falta de sofrimento. Que há amor em todo esse vazio.

Descobriu que seu coração era, provavelmente, o músculo mais ativo de seu corpo. Perdia até mesmo para suas pernas acostumadas a 25 quilômetros por semana. E que ele, sedentário, adoecia enquanto ela secava por dentro.

Ela perdia a compaixão, a empatia.

Ela fazia mal aos outros.

Descobriu que não existia academia para o coração, nem exercício para o amor. Só deixando o passado assumir seu lugar.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Desamor II

E ela, que sempre disse sim, já perdeu as contas de todos os seus "nãos". Acorda coração!

domingo, 6 de abril de 2014

Filofobia

Eu também acho que não deveria ser tão difícil falar de amor.  Essa sua mania de escorrer feito água, de esparramar e desviar o fluxo enquanto, no fundo, você só quer alguém capaz de te juntar, anda te fazendo mal. E aquela sua promessa de só sossegar quando encontrasse um peito no qual fosse capaz de adormecer... bem, essa, senta aqui, vamos conversar.