segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Quintana

A Rua dos Cataventos

Da primeira vez que me assassinaram,
perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não te mais nada.
Arde um todo de vela amarelada,
Como o único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

QUINTANA, Mário. A Rua dos Cataventos. Rio de Janeiro, Globo, 1940.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Difícil, difícil mesmo é desapegar das ideias



Mais cedo ou mais tarde percebemos que o que nos faz sofrer não é o amor perdido, é a necessidade de desapegar de uma ideia que construímos. A ideia de um relacionamento, a ideia de uma pessoa. 

http://180cartazesprasairdafossa.tumblr.com/
A partir do momento em que tudo acaba, você não é mais quem estava naquela relação, a pessoa não é mais quem estava com você e a relação não é mais a relação que era. Tudo mudou naquela hora em que cada um resolveu seguir o seu caminho. O passado será de vocês para sempre, o futuro talvez nunca mais seja. Como disse Quintana, “só o que está perdido é nosso para sempre”.

Não precisa achar que não valeu a pena, pensar que perdeu tempo ou que todo o investimento foi em vão. Não foi. Você mudou, mudou muito durante todo aquele tempo, provavelmente para melhor. Amadureceu, aprendeu, cresceu. Experimentou coisas maravilhosas, sentimentos que não conhecia, lugares, momentos, pessoas. Amou e foi amada, percebeu até onde você consegue ir com alguém, até onde seu coração te permite embarcar em uma relação. Nada, nada disso foi perdido, nada disso foi em vão.

O que acaba pesando no coração e na alma é a quebra de expectativa. O abandono de tudo aquilo que, na nossa cabeça, já estava certo. Difícil, difícil mesmo é desapegar de tudo o que construímos e sonhamos. É aceitar que tudo aquilo que você viveu não existe mais e nunca mais voltará. Mesmo que algum dia o destino, a vida ou uma incrível coincidência junte vocês de novo, nunca será uma volta, mas um recomeço, com tudo novo, do zero.

E todo esse desapego exige um luto. Exige aceitarmos que um dia você estará muito bem, no outro o coração estará tão pesado que mal conseguirá se levantar da cama. Uma hora você vai achar que está curada, mas minutos depois uma música, uma foto, uma lembrança fará com que as lágrimas voltem. A vida é assim. Dizem que se leva seis meses para curar um coração machucado. Então viver, e não apenas sobreviver nesses seis meses, é o melhor que fazemos, para não passarmos a vida fugindo de um fantasma.

A gente só não pode mesmo é desistir. Aceite que tudo o que você sentiu e viveu, está dentro de você e não da outra pessoa. Todo aquele amor era seu, toda aquela disposição em investir e lutar, era sua. Mais cedo ou mais tarde aquilo aparecerá de novo, com alguém melhor, que esteja disposto a investir tanto quanto você, a entrar no mesmo barco, a compartilhar sonhos e expectativas.  

Enquanto isso, a vida está aí te apresentando um monte de possibilidades. Aproveite o momento: sinta muita raiva; chore; desabafe; fale tudo o que está engasgado; mande SMS quando beber; chegue no fundo do poço; reerga-se; reconstrua-se; beije bastante na boca; surpreenda-se; seja egoísta e pense só em você; toque sua vida do jeito que você quer, sem precisar pesar a expectativa de mais ninguém com relação a isso; avalie suas escolhas e prioridades; teste-se; arrisque-se; provoque-se. Não há mal nenhum em fazer tudo isso. Na pior das hipóteses você terá muita história para contar e um coração curadinho para viver novos amores.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Preciso me encontrar

E na tentativa de me esconder na multidão, eu me perco.

Me perco entre elogios alheios, palavras sussurradas por vozes desconhecidas, corpos diferentes e beijos passageiros.

Me perco na escolha entre sentir o que eu queria sentir com quem eu não escolhi sentir, ou sentir o que eu não escolhi sentir com quem eu queria sentir.

Me perco entre o querer e o não querer. Entre o amor e a mágoa. Entre as certezas e as incertezas.

Me perco no meio de tanta gente disposta a ajudar, apoiar, aconselhar, sem ter o colo que desejei.

Me perco em lugares conhecidos, onde cada canto guarda uma imensidão de lembranças doces e dolorosas.

Se ao menos eu pudesse, uma vez que fosse, me encontrar onde eu queria.



quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Reinvente-se

Ela achava que seu mundo acabaria. Acreditava que, a partir daquele dia, ficaria imobilizada, estática, morta. Mas não, não chegou nem perto disso.

As lágrimas esperadas nunca vieram, o coração não sangrou e seu sorriso não foi embora. Ao contrário, ele aparece cada dia maior e mais sincero. E ela, cada dia mais bonita e mais feliz.

Descobriu uma confiança que não sabia que tinha, uma disposição que há muito não encontrava e uma vontade de viver incontrolável.

Ela se redescobriu e se reinventou.

domingo, 9 de dezembro de 2012

E é por conhecer tão bem.


Da última vez que se encontraram ele reafirmou: ela ainda era a pessoa que mais o conhecia na vida. E provavelmente será por muito tempo. Afinal, não foram dias, meses, foram anos. Não foi um casinho, mas o relacionamento mais sério, mais consistente que já tiveram.

E é por conhecê-lo tanto que ela às vezes se pergunta como isso tudo começou e porque tomou o rumo que tomou. Porque ela sabe que isso não é coisa dele. Porque ela sabe do que ele gosta e não gosta, do que ele acredita e não acredita. E sabe que isso, definitivamente, não condiz com a personalidade dele.

Mas ela também sabe do quanto ele é inconstante. Sabe como as coisas mudam na cabeça dele em questão de dias. Desde que o conhece ele não relaxa em absolutamente nada que faz. Sua empolgação dura poucos meses e logo, logo ele já quer mudar. É assim com os planos, é assim com a profissão, porque não com o amor, né? 

E se é assim com o amor também, sente pena, muita pena. Porque agora foi com ela, amanhã será com a outra, e ele pulará de galho em galho, até não encontrar mais ninguém disposto a embarcar em tanta angústia, tanta ansiedade.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Nunca, nunca mais

Por muito tempo eu pensei que seria assim mesmo, pelo resto da vida. Imaginei que uma vida a dois era isso, abrir mão dos sonhos e das vontades pelo bem do casal. E foi o que eu fiz, durante três anos e meio.

O que recebi em troca? Um: adeus, vou resolver a minha vida. Sim, um adeus. Como se todos aqueles sonhos que eu havia deixado de lado não importassem, como se todos os esforços, as vezes que engoli seco para não me chatear e te chatear, as vezes que fiquei triste e fingi que estava tudo bem, como se tudo isso fosse facilmente descartável. Fui abandonada e sem aviso prévio, sem a mínima chance de tentar.

Há um mês atrás eu fazia planos com o amor da minha vida. Hoje eu faço planos para acertar a minha vida sem esse amor.

Se estou mal? Não vejo assim. Estou triste e sinto muita saudade. Mas, agora, posso aproveitar meus carnavais sem ninguém de mau humor ao meu lado, posso marcar viagens sem ter que ficar no pé de ninguém para decidir logo, posso sair e me divertir sem me sentir solitária, posso fazer planos de mudanças sem o peso da sua racionalidade insuportável.

Além de tudo isso, acabei percebendo que eu nunca, nunca mais na minha vida preciso abrir não dos meus sonhos. Eu quero e mereço realizá-los. Se você não pode fazer isso por mim, outra pessoa poderá e fará isso sem sofrer, sem se angustiar, como se fosse a coisa mais difícil do mundo. Porque amar é isso, é embarcar juntos na vida, é estar disposto a ver o outro feliz, mesmo se sacrificando um pouco. Isso você nunca fez por mim, nem um pouquinho.

Por mais difícil que seja enterrar esse amor, fechar esse caixão, sei que ele não levantará mais. Nunca mais. Simplesmente porque eu preciso de alguém disposto a realizar meus sonhos. E você nunca será essa pessoa. Nem por mim, nem por ninguém.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Abandono

A gente aguenta a distância, a indiferença, a falta de romantismo, os mau humores, as discussões, as diferenças, os defeitos.

Só é difícil aguentar o abandono.

Nostalgia

E o que ela pensava que era saudade, não passava de nostalgia, de lembranças de algo que não volta mais, da idealização de momentos que nunca mais se repetirão.