quinta-feira, 27 de abril de 2017

Cheio de nós




Tudo ficou tão cheio. Cheio de amor. Cheio de mim, de você, de nós. Desses nós tão difíceis de se desfazer e que não puderam transbordar. Recusaram-se a se transformar em palavras. Havia tão pouco espaço que emaranharam-se nos nós de nós e não sabíamos mais quais eram os limites, as dores e as vontades de cada uma.

Mas desfizeram-se. Desfizeram-se em um adeus com cara de até logo. No entanto, um adeus é sempre um adeus. E também vem cheio. De lembranças, de mágoas, de tudo o que não pode ser dito. Vem cheio das palavras duras e daqueles nós que não conseguimos desfazer. Um adeus é sempre muito cheio de adeus.

Só que tudo continuou completamente cheio. Cheio de partidas, de perdas e de despedidas. Cheio desses vazios que insistem em ficar. Vazios tão sem saída. Cheio de solidão, de dor, de saudade. Continuou tudo cheio de nós, esse nó tão difícil de soltar. Esse nó que parecia tão atado, mesmo quando estava frouxo. Que parecia tão certo, mesmo quanto errado.

Continua tudo muito cheio.