segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Essa segunda-feira amanheceu com um gosto amargo de ressaca.

Essa segunda-feira amanheceu com um gosto amargo de ressaca. A cabeça pesada, o corpo dolorido e o coração angustiado.

Não estou falando de Paris, ou talvez não só de Paris. É sobre os mais de 100 mortos na capital francesa; os 300 mil brasileiros sem água em Mariana; o rio que era doce, mas agora está morto; a fauna e a flora contaminadas e dizimadas; as vítimas do Boko Haram na Nigéria, que voltaram a ser lembradas nese final de semana; os 4 milhões de refugiados sírios; os 99% de mulçumanos que são e continuarão sendo vítimas de xenofobia e intolerãncia, mesmo não concordando com o terrorismo.

A ressaca também é também pelas 58 mil mortes violentas, no Brasil, em 2014, das quais quase 70% das vítimas são negros; as mais de 5 mil mulheres assassinadas e 47 mil estupradas no Brasil todos os anos; as mulheres, vítimas do ISIS, capturadas, escravizadas e estupradas; os mais de 6 mil homossexuais violentados no país todos os anos; isso sem falar dos milhares de miseráveis que morem todos os dias na África e na América Latina, de fome, de doenças, por conta de guerras civis e que simplesmente não são lembrados (é difícil encontrar algo até mesmo pesquisando no Google); essa lista não tem fim.

Minha ressaca, talvez, seja pela humanidade. Pelos comentários cruéis nas redes sociais, pelas disputas ideológicas irracionais, que só aumentam o ódio, pela maldade que fica tão evidente em tempos tão conectados.

Não, eu não acho que o mundo esteja pior, acredito mesmo que a maldade esteja mais aparente. Talvez até acredite que o mundo vem melhorando ao longo dos séculos e, por isso, as redes sociais tenham se tornando praticamente um ringue, onde todos pode lutar em pé de igualdade, sem medo de represálias. Mas em finais de semana como o último, difícil não pensar que esses são tempos difíceis para se viver.

Enquanto a gente se preocupa muito mais em xingar governos, condenar mulçumanos, agredir quem pensa diferente, legislar sobre a vida e o corpo do outro, milhares de seres vivos morrem por negligência, por falta de atenção, por falta de ação.

Muito mais do que rezar, nós deveríamos é lutar por Paris, por Mariana, pela Niigéria, pela Síria, pelas mulheres, pelos negros, pelos homossexuais, pelas crianças, pelo planeta e por um lugar mais humano para as próximas gerações. E, para essa ressaca, apenas a esperança e a certeza de que ainda existe gente disposta a mudar tanta bagunça.