quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O que eu aprendi sendo solteira.




Nunca soube ser solteira de verdade. Desde os 15 anos emendei um namoro longo no outro. Mesmo em períodos de entressafra, eu sempre tinha alguém relativamente fixo. E sofria, como eu sofria. Era um apego sem fim. A cada paixonite acabada, a desilusão e aquele ideia de que eu nunca encontraria alguém. Mas eu sempre encontrava.

Muitos corações partidos depois, e um bem estraçalhado, decidi que para o meu bem eu merecia ser solteira. Ser solteira mesmo, na essência da palavra. Sabe aquela coisa do pega e não se apega? Era bem isso. Aprender a viver só, viajar só, morar só, fazer novos amigos, conhecer gente, viver um carnaval de verdade, dois, três. Passar pela chatice de levar meu carro no mecânico, pregar um quadro sozinha na parede, passar meses na balada, viajar com quem eu nem conhecia direito, viajar com amigos, dentre outras coisas.

Definitivamente, eu só posso dizer que minha missão anda bem sucedida. E aprendi coisas muito curiosas sobre a solteirice, principalmente sendo mulher, feminista e tendo 30 anos, aquela idade em que suas amigas estão casando e tendo filhos enquanto você está indo pro carnaval e beijando meninos de 20 anos:

1) Meus amigos homens, héteros e comprometidos não se conformam com o fato de eu ser solteira, eles querem porque querem me arrumar um homem para casar. Mesmo eu dizendo que não tenho muita vontade de casar.

2) Meus amigos homens héteros e não comprometidos ou são ex-peguetes ou serão futuros peguetes (exceções raras quando a amizade já virou irmandade). E tá tudo certo.

3) Meus amigos gays são, definitivamente, a melhor companhia do mundo para uma noite de risadas e diversão que só acaba de manhã. Desculpem amigas, mas ninguém é páreo para eles.

4) Minhas amigas héteros, já passaram por tanta coisa que dividir as experiências com elas é a melhor terapia possível. Tá certo que é tanta mulher falando ao mesmo tempo que às vezes fico confusa, mas é bom saber que não estou sozinha no mundo, todo mundo já passou por situações parecidas.

5) Minhas amigas, héteros e comprometidas te olham com aquele ar de "ela é meio doidinha, né?".

6) Minhas amigas héteros e solteiras muitas vezes continuam sonhando com o príncipe encantado e não se conformam quando eu digo que não penso em casar: "é só uma fase".

7) Minha mãe fica de cabelo em pé a cada viagem que eu faço ou a cada balada que apareço de ressaca no dia seguinte.

8) Quem não me conhece direito, acha que sou a pessoa mais vida loka desse mundo por causa das minhas fotos nas redes sociais, mesmo quando eu passo um mês trancafiada em casa.

9) Meu pai acha que eu vou ficar "encalhada" pra sempre e ele não vai ganhar o tão sonhado neto. Como se uma coisa necessariamente tivesse ligada a outra.

10) Meus colegas e amigos menos próximos acham que sou uma pessoa forte, corajosa e desapegada. Enquanto isso eu corro pro banheiro para chorar em toda TPM.

Brincadeiras de lado, o mais marcante nisso tudo foi perceber como as pessoas ainda acreditam fortemente que uma mulher precisa da chancela masculina para ser feliz, e que se ela está solteira a tanto tempo ela deve ter algum problema. Quantas e quantas vezes eu escutei comentários absurdos do tipo: não me conformo de você ser solteira, você deve ser muito exigente.

Realmente, tenho um problema muito sério: eu não preciso de ninguém. Não preciso mesmo. A minha felicidade é e sempre será minha, independente de eu ter ou não alguém na minha vida. A única coisa que preciso para ser feliz é meu autoconhecimento, E dele eu corro atrás todos os dias. Preciso muito menos que escolham alguém para mim, sei muito bem minhas preferências, minhas vontades e meus desejos. Quando eu tiver alguém novamente, não será por necessidade, mas por vontade. Vontade de compartilhar meus dias e minha vida, vontade de estar junto, vontade de dividir minhas alegrias e minhas tristezas.

Sou exigente sim, exigente pra caramba. A minha liberdade está cada dia mais cara. Faço tudo sozinha, eu sei e consigo fazer tudo sozinha, não dependo de ninguém para nada. Então porque abrir mão de fazer o que eu bem entender por alguém que não faz meus olhos brilharem, minhas pernas tremerem, meu coração palpitar? Por que trocar meus momentos de silêncio por alguém que não quer estar comigo, embarcar na mesma viagem ou não me faz bem? A minha liberdade vale bem mais que isso.

Para quem se arrepia quando eu digo que não sonho em casar, isso simplesmente não faz parte da minha personalidade. Eu não sou tradicional, não aprendi nada com a Cinderela. Não tenho absolutamente nada contra casamento e até me emociono neles, acredito no amor com todo o meu coração, só não vejo sentido em jurar amor eterno a alguém com tantas testemunhas, sendo que eu nem sei o que será da minha vida amanhã. Eu já tenho meus amores eternos e nunca precisei de testemunha para isso. Meus futuros amores, eternos ou não, nunca terão dúvidas do meu sentimento.

E não, eu não tenho nenhum problema em gostar de ser solteira. Não estou atrás de alguém perfeito. Na verdade, não estou atrás de ninguém. Não precisa me olhar com esses olhos de pena e dizer: não entendo porque você está solteira. Estou porque quero, porque tão bom quanto se apaixonar é ter o coração leve. No dia que eu sentir aquele clique dentro do meu peito que me fale "agora vale a pena", não vou hesitar em me jogar. Como todo o meu coração, mas sem esquecer quem eu realmente sou.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Lugar dos sonhos



Disseram-me que era o lugar dos novos amores, eu não acreditei. Fui desarmada e encontrei uma vila toda feita de amor. Entre o rio e o mar, o verde e o céu existia o infinito. 

Lá eu tinha os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Podia ser dançarina de forró ou passista de escola de samba. A princesa que Chico quis coroar ou a tigresa de íris cor de mel que seduziu Caetano. A carroça virava carruagem, a areia, passarela. Netuno, o deus do mar, era a bebida divina. 

Lá eu podia ser como eu quisesse. Podia gostar das músicas que odiava e detestar as músicas que eu amava. Calçava a terra, me vestia de sol. 

Comia pizza na vila e pastel em Belém. Jantava no café da manhã e almoçava na janta. Não tinha mundo fora daquele mundo. O mundo era o mar. 

Lá eu falava com a lua e caminhava com o sol. Fazia do céu estrelado meu teto e meu prazer. E do barulho das águas a trilha sonora do meu dias. Meu coração de pedra inflou de felicidade. 

Ali o ano virava magia. As horas duravam dias e os dias uma vida inteira de coisas boas. O tempo não passava, mas acabou muito mais rápido do que eu gostaria. Tinha esperança naquilo tudo. Esperança de que os dias sejam leves como foram ali, no meu lugar dos sonhos.