quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Santa Chuva

Foto: https://www.flickr.com/photos/52214493@N03

Poderia ser mais um domingo qualquer, de um março qualquer, de um ano qualquer. No entanto, dessa vez, enquanto a chuva inundava o país, batia também em seu peito com tanta brutalidade que arrastava pedaços de sentimentos e lembranças. Sentia como se toda aquela água saísse de dentro dele.

Marcelo pegou o celular e, inúmeras vezes, ensaiou apertar aquele número que estava em primeiro na lista há tantos anos. Não tinha coragem. Não aguentava mais aquele limbo, mas sabia que uma ligação só pioraria as coisas. Achou melhor tentar uma mensagem, pelo menos se pouparia de escutar a voz que tanto amava lhe dizer palavras tão duras. Mesmo sabendo que ela conseguia ser ainda mais cruel ao escrever do que ao falar, era mais fácil lidar com tanta mágoa quando as palavras estavam no papel (ou na tela do celular).  “Eu só queria que essa chuva te trouxesse de volta para mim...”. Mandou e se arrependeu imediatamente.

No mesmo instante, começou a se lembrar do dia que a levou ao seu restaurante preferido. Ela estava linda como há muito tempo não a via. O sorriso, os olhos, a alegria, aquele jeito tagarela de quando estava muito feliz ou muito nervosa. Jantaram, riram, conversaram, até que chegou a hora que ele tentava adiar. Começou falando de sentimentos, dúvidas e angústias da vida, gaguejava, confundia as palavras e as ideias. Sua namorada não era boba, entendeu muito bem o que ele tentava dizer: “é outra mulher, não é?”. Não precisou de um sim verbal, o olhar o entregou. Ela pegou sua bolsa, levantou-se calmamente e foi embora.

Naquela noite, não conseguiu dormir. Sentia falta de ar, seu peito pesava. Cochilava e o sorriso dela aparecia em seus sonhos. Acordava e tinha vontade de voltar no tempo e desfazer tudo aquilo. Mas não podia, estava enrolado até o pescoço. Não tivera apenas um caso, prometeu à outra o que ele só podia dar à sua namorada (agora ex). Ela acreditou e agora esperavam um filho. A criança nasceu, mas o relacionamento não durou.


Não sabia de onde vinha tanta água, da rua ou de dentro dele. 

*Esse conto foi escrito para a Oficina de Escrita Literária, do professor Marcelo Spalding. A música escolhida para basear o conto foi Santa Chuva, do Marcelo Camelo.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

And we can learn to love again

Me tiraram dos pés as nuvens sob as quais eu andava. Padeci de amor. Nem mesmo acreditava que havia sido meu um dia. I thought that we were fine (oh we had everything). Fui obrigada a caminhar com meus próprios pés. A levantar da queda, consertar os joelhos machucados, curar o coração doente, levantar a cabeça e seguir em frente. E bem ali na frente encontrei a vida, a MINHA vida, com todas as possibilidades e sonhos que eu poderia viver. Vivi meus sonhos. Vivi pessoas. Vivi momentos. Enchi meus dias de sorrisos. Enchi minhas noites de música. Enchi minha vida de poesia. E tudo graças a minha insistência em ser feliz, e àqueles que preencheram minha vida com o amor que eu precisava.