quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Encantador de sorrisos



Encantador de sorrisos. Essa deveria ser uma profissão regulamentada em lei.

s.m. 1. Aquele que arranca risadas tímidas, sorrisos largos e gargalhadas barulhentas durante todo o tempo que está perto de você.

O encantador de sorrisos profissional sorri com os olhos, com o corpo, com as mãos. Sorri até quando não sorri, quando o assunto é sério.

Ele enche os dias de alegria e de leveza. De uma vontade incontrolável de estar junto sempre: no almoço, no cinema, nas noites frias de edredom e seriado, no café da manhã às duas horas da tarde.

Pode ser mal entendido, às vezes, pela magia seu poder hipnotizante e seu poder de cura. Mas tem um coração tão grande que transborda. O maior perigo que oferece é encher nosso estômago de borboletas e elas não quererem mais sair de lá.


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Exposta



Não deixava muito espaço para pensar em sua vida. De dia mergulhada no trabalho, de noite em seus livros, seriados e projetos pessoais. Até lavar a louça era motivo para ocupar a cabeça com o CD da recém lançada banda do ex-vocalista da sua ex banda favorita.

Parar para pensar a obrigaria a admitir seu apego, sua fraqueza, sua entrega. Preferia fugir com sua máscara de mulher forte e independente. Pensar era admitir seus medos e reconhecer que sua vida amorosa era um ciclo de abandonos e expectativas frustradas. Era admitir que dentro dessa armadura que ela decidiu vestir havia uma ferida exposta e incurável.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Amor é abandono




Amor é abandono, viu escrito no muro. Ou imaginou que viu. Ou aquelas palavras estavam impregnadas no seu inconsciente e resolveram dar o ar da graça. Não importa. O fato é que a frase fazia um sentido muito maior do que ela gostaria.

Amor é abandono. E desde sempre tem sido assim. Dos amores familiares aos amores românticos, ou ela abandonava ou era abandonada. O pai, a avó, a mãe, a melhor amiga, o primeiro namorado, o último namorado, a última paixão. Estava sempre em situações potenciais de abandono. O abandono físico ou o abandono emocional.

Era nesse padrão que depositava suas expectativas. Mais do que querer quem não a queria, ficava atrás de quem não tem disposição física, emocional ou espiritual para acompanhá-la. De pessoas egoísta e mesquinhas a espíritos inquietos que, depois de conquistá-la, iriam atrás de seus sonhos deixando seu coração cheio de saudades. Ou pessoas que simplesmente não a aceitavam seu jeito de ser e era ela que decidia abandonar. 

Amor é abandono, ela repetia. Todos os dias. Na tentativa de se encontrar naquelas três palavras. É, mas não deveria ser. É, mas ela não queria que fosse. Amar não deveria ser a arte do encontro? Abandono é desencontro. 

Amar é desencontro. E ela não se encontrava nisso. Por vezes, sentia-se incapaz de amar. Duvidava de seu passado e de suas histórias. Minimizava seu sentimentos, seus investimentos, sua dedicação. Acreditava mesmo que não haveria encontro possível dali para frente.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Ninguém vive de contar histórias...





- O que você quer ser quando crescer?


- Contadora de histórias, respondi.


- Mas ninguém vive de contar histórias.


- Não, eu vivo para contar histórias.


Conto histórias nos meus textos, nas minhas fotos, na minhas tatuagens.
Conto histórias nos quadros da minha parede, nas almofadas do meu sofá.
Conto histórias enquanto tomo banho, enquanto cozinho, na lista de compras.

Conto as histórias que habitam meus sonhos.

Eu conto histórias quando falo e quando calo.
Conto histórias no meu trabalho e nos cartões que escrevo para os amigos.
Conto muitas histórias nos presentes e carinhos que ofereço, 
nas risadas e abraços que dou.
Conto histórias enquanto sonho, enquanto caminho e enquanto sigo minha vida.

Conto as histórias que apertam meu coração.

Conto histórias reais, fictícias,virtuais e físicas.
Eu conto as histórias que vejo e as histórias que sinto.

Conto as histórias que não saem da minha cabeça, desesperadas para baterem perna pelo mundo.

Eu conto histórias da minha vida. Mesmo quando é uma vida inventada.