quinta-feira, 26 de maio de 2016

Trinta



Foram trinta homens. TRINTA. Não foi um, não foram dois, foram trinta! Um de cada vez. Violando, violentando, rindo. Não imagino quantos nãos você tenta dito. Não imagino quantas súplicas, nem quantas lágrimas. A história é tão inacreditável que fica difícil imaginar a cena. Embrulha o estômago, dói o coração.

Foram trinta. E não importa a roupa que você estava usando, nem a idade que tem. Não importa se já tem um filho, quantos caras já tenha transado, quantos namorou. Não importa se já deu mole para um ou alguns deles. Não importa se for usuária de drogas. Nada nunca dará a eles o direito sobre o seu corpo.

Trinta homens. Sim, homens, não animais. Porque isso, infelizmente, é coisa de homem.  Homens completamente normais, que vemos todos os dias, que trabalhamos, convivemos, cruzamos na rua, somos amigas, ficamos. São homens que se acham poderosos porque têm um pau no meio das pernas e acreditam poder fazer o que querem. São os mesmos homens que recebem fotos e vídeos de mulher pelada e espalham pros amigos, contam piadas machistas, acham legal puxar a mina pelo braço na balada e tentar beijar a força. São homens, não animais.

Homens, trinta. Não são doentes, nem loucos. São completamente sãos. E se isso acontecesse com a irmã, mãe ou namorada deles, provavelmente estariam jurando os algozes de morte. Mas foi com a irmã, mãe ou namorada dos outros e eles nem levaram em consideração. Simplesmente julgaram ser uma boa ideia porque você "merecia".

Não, você não merecia. Você nunca vai merecer isso. Nenhuma de nós merecemos a violência. Nenhuma de nós merecemos o silêncio. Nenhuma de nós merecemos a condenação. Nem o assédio, o machismo, a misoginia. Você não merecia o trauma e não merece tanta gente procurando justificativas para te culpar.

Você merece e nós merecemos o controle sobre nossos próprios corpos, a liberdade. Merecemos não ter medo de andar na rua e não tremer ao cruzar com qualquer, QUALQUER homem. Merecemos poder sair na rua de shortinho, beber, paquerar. Merecemos respeito na rua, no trabalho, em casa. Respeito por quem somos, pelas batalhas que enfrentamos diariamente por termos nascido mulheres, pelo que escolhemos ser.

Você, minha querida, sofreu por todas nós. Por cada piada machista que somos obrigadas a escutar, caladas. Por cada assédio nas ruas, no trabalho. Por cada cantada que escutamos na rua e cada vez que apressamos o passo ao ver um homem se aproximando. Você sofreu por cada mulher morta ou espancada simplesmente por ser mulher. Por cada mulher que sofre ou morre ao fazer um aborto clandestino. Sofreu pelos xingamentos de puta, vaca, piranha, dirigidos a nós todos os dias, pelos videos vazados de muitas irmãs, pela violência psicológica que muitas outras sofrem diariamente.

Você merece muito, muito amor. E não que te fizeram. Merece um abraço apertado e um beijo de cada uma de nós. Merece nosso colo, nossa solidariedade e nosso barulho. Você merece que a gente grite muito, muito alto por você para que eles sejam jogados na cadeira. Que a gente te defenda com unhas e dentes e que o mundo entenda que não, você nunca terá culpa do que te aconteceu. Nunca.

Nós te amamos e estamos com você!

Foto: https://www.flickr.com/photos/european_parliament

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Tempos difíceis



para falar de amor
para se ter esperança
para nascerem flores
para voar
para acreditar
para sorrir.