Passei muito tempo procurando culpados pela minha dor. Escrevi incessantemente para ver se as palavras levavam toda aquela aflição embora. Muito mais do que textos no blog, precisei de meses de análise, horas de meditação, leituras, conversas e um exercício difícil de auto análise para entender que ninguém tem culpa pelo meu sofrimento, a não ser eu mesma.
Não, não é loucura, ninguém escolhe sofrer, é claro. Mas a maneira como lidamos com as rasteiras da vida são determinantes no nosso processo de superação. Minha escolha não foi consciente, mas foi uma escolha. Eu remoí acontecimentos, alimentei mágoas e sustentei uma raiva maior talvez do que todo amor que esteve comigo por tanto tempo. Eu criei uma imagem distorcida dos acontecimentos, da história e do protagonista. Eu me indignei e perguntei incontáveis vezes o porquê daquilo tudo. Eu joguei a culpa em outra pessoa.
O motivo de tanta incompreensão era muito simples: eu me recusava a olhar para dentro da relação desfeita. Era mais fácil me sentir enganada e abandonada do que admitir que no fundo eu já sabia como tudo iria acabar. Era mais muito mais fácil criar um monstro que me assombrava todo santo dia do que admitir que fui covarde.
Não fui pega de surpresa, não fui enganada, não fui abandonada. A minha constante insegurança e sensação de estar sozinha no relacionamento eram apenas o prenúncio do que viria. Meu erro foi ter depositado a responsabilidade pela minha felicidade em cima de outra pessoa que mal dava conta da própria felicidade. Coloquei um peso imenso nas costas da relação e criei uma expectativa perigosa. Me desliguei de mim, dos meus desejos e das minhas vontades.
E quando a gente coloca a culpa do nosso sofrimento nas mãos de outra pessoa, ou nas mãos de uma cidade, de um projeto de vida, de um emprego, a gente joga também a incumbência pela nossa felicidade. A gente abre mão de lutar pelo que nos faz bem e coloca a responsabilidade em terceiros. Mas a dor é nossa e ela só existe porque ali no fundo tem uma porção de coisas que a gente se recusa a acessar.
Aceitar o sofrimento, as angústias, a saudade, o amor, o prazer é aprender a assumir o controle sobre nossas próprias vidas, as rédeas do nosso próprio caminho.
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