quarta-feira, 28 de maio de 2014
terça-feira, 27 de maio de 2014
Devagar, devagarinho
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Engolindo palavras
Diziam que ela nunca sufocaria com as palavras, mas não sabia mais quantas vezes quis dizer como adorava se perder naqueles olhos e só conseguiu respirar fundo, engolir seco e virar para o lado.
domingo, 25 de maio de 2014
Momentos
sábado, 24 de maio de 2014
O gosto
- Sim...
- Você está chorando...
- Não se preocupe, são lágrimas de alívio.
- Como assim, lágrimas de alívio? - uma novidade para um menino de 9 anos.
- Sabe o que é? Ás vezes a vida machuca tanto a gente que nosso coração vai apertando, apertando, até ficar duro igual a uma pedra. Aí, parece que a gente nunca mais vai conseguir sentir nada: nem muita alegria, nem muita tristeza.
- E não tem médico pra isso?
- Tem não.
- E remédio?
- Só o tempo.
- Mas tempo não compra.
- Não, tempo a gente espera.
- É por isso que você tá chorando? Porque o tempo tá demorando?
- Não, eu tô chorando porque o tempo passou, a pedra amoleceu e eu percebi que tinha tanta mágoa apertada dentro do meu coração que precisei dessas lágrimas para colocar tudo pra fora.
- Hummm, quer dizer que sua mágoa virou água?
- Virou lágrima.
- Então a mágoa é salgada?
- Pode ser amarga também.
- Acho que não gosto de mágoa, só gosto de doce.
- Eu também.
- Então porque engoliu mágoa?
- Sabe quando sua mãe diz que você tem que comer salada para crescer saudável e você é obrigado a comer mesmo sem gostar? Com a mágoa é igual. Aliás, com a mágoa, com a raiva, com a tristeza. Ninguém gosta, mas se a gente não provar, não crescemos fortes.
- Entendi. Acho que sou pequeno pra ser forte ainda... Quer um pouco de alegria? - disse, oferecendo-me seu chocolate.
quarta-feira, 21 de maio de 2014
O mito da felicidade
Daí derivam uma série de mandamentos irrefutáveis. Dentre eles a ideia de que até os 20 e poucos anos a gente pode se divertir, depois chega a idade de constituir família e tal, o melhor é mostrarmos que somos mulheres de família, "pra casar". E não importa o quão intensa e agitada tenha sido sua juventude, ficou tudo no passado. Se você não aproveitou a vida até aí, timing errado, pague o preço.
Esse mandamento está fortemente atrelado a um outro, que diz que toda mulher solteira perto dos 30 é, pobrezinha, uma coitada. Vai ficar para tia, vai criar gatos, será que virou lésbica? Afinal, como uma mulher pode ser feliz sem a chancela masculina? Como ela pode viver bem sozinha, cadê um homem para lhe dar sentido a vida?
Desses dois mandamentos, surge um terceiro, interessantíssimo: a despeito de toda revolução sexual e da liberdade que alcançamos para poder casar por amor, descasar quando quisermos e até nunca casarmos, o tal do casamento continua sendo um objetivo a ser perseguido (por mulheres perto dos 30, principalmente) e não a consequência de um relacionamento entre duas pessoas profundamente conectadas. O melhor comentário que ouvi esses dias, vindo de uma amiga, foi: em pleno século 21 as pessoas continuam se casando pelos mesmos motivos que faziam em 1500 - para ter uma testemunha na vida, para não ficar só, para ter filhos, para ter status, porque as pessoas cobram. No fim, a gente conta nos dedos quantas pessoas casam porque realmente sentem que estão em um relacionamento que faz sentido.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
Aceite seus sentimentos
Não, não é loucura, ninguém escolhe sofrer, é claro. Mas a maneira como lidamos com as rasteiras da vida são determinantes no nosso processo de superação. Minha escolha não foi consciente, mas foi uma escolha. Eu remoí acontecimentos, alimentei mágoas e sustentei uma raiva maior talvez do que todo amor que esteve comigo por tanto tempo. Eu criei uma imagem distorcida dos acontecimentos, da história e do protagonista. Eu me indignei e perguntei incontáveis vezes o porquê daquilo tudo. Eu joguei a culpa em outra pessoa.
O motivo de tanta incompreensão era muito simples: eu me recusava a olhar para dentro da relação desfeita. Era mais fácil me sentir enganada e abandonada do que admitir que no fundo eu já sabia como tudo iria acabar. Era mais muito mais fácil criar um monstro que me assombrava todo santo dia do que admitir que fui covarde.
Não fui pega de surpresa, não fui enganada, não fui abandonada. A minha constante insegurança e sensação de estar sozinha no relacionamento eram apenas o prenúncio do que viria. Meu erro foi ter depositado a responsabilidade pela minha felicidade em cima de outra pessoa que mal dava conta da própria felicidade. Coloquei um peso imenso nas costas da relação e criei uma expectativa perigosa. Me desliguei de mim, dos meus desejos e das minhas vontades.
E quando a gente coloca a culpa do nosso sofrimento nas mãos de outra pessoa, ou nas mãos de uma cidade, de um projeto de vida, de um emprego, a gente joga também a incumbência pela nossa felicidade. A gente abre mão de lutar pelo que nos faz bem e coloca a responsabilidade em terceiros. Mas a dor é nossa e ela só existe porque ali no fundo tem uma porção de coisas que a gente se recusa a acessar.
Aceitar o sofrimento, as angústias, a saudade, o amor, o prazer é aprender a assumir o controle sobre nossas próprias vidas, as rédeas do nosso próprio caminho.
quarta-feira, 14 de maio de 2014
Espelho
Gostava muito de ser livre, gostava da sua independência. No entanto, sentia falta, nem que fosse uma vez por mês, naquele período que ela chorava por um dia inteiro enquanto acabava com um litro de sorvete, de ter alguém para se enfiar debaixo do cobertor e ver filme abraçada.
Apesar de não conseguir resolver nem uma parcela mínima de seus problemas internos, possuía um autoconhecimento invejável. Era capaz de enumerar todos os seus defeitos e qualidades, suas causas e consequências, sem hesitar.
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Essa dor chamada amor
Dói, dói mesmo. Parece que foi ontem, sabe? Lembro-me muito bem da náusea , daquela sensação de perder o chão, da falta de ar. Dói pra caramba. Dói fisicamente.
O coração parece que vai sumir, o sono vai embora só pra maltratar um pouco mais e nem aquele prato especial da sua mãe parece apetitoso mais. Dá uma puta vontade beber, encher a cara mesmo, desde a hora que acorda, pra ver se o dia fica mais fácil de suportar, pra ver se tomamos coragem de ligar e falar umas verdades.
Tem dias que abrimos os olhos e só queremos dormir de novo, ou morrer, ou ficar desacordado até que essa dor maldita passe. Tem dias que acordamos querendo que o mundo se foda, eu sou mais eu, agora ninguém me segura. Mas aí voltam às lembranças e todo esse ânimo vai embora de novo.
Dói, viu? Dói porque não é só a perda de um amor, é uma aposta carregada de expectativas e sonhos, um projeto de vida. Dói saber que tudo o que vocês planejaram juntos foi realizado com outra pessoa, sem nenhum escrúpulo, preocupação ou vontade de preservar o que vocês tinham juntos. É uma dor desesperadora.
Mas passa ou, pelo menos, torna-se suportável. Pode demorar mais ou menos, mas já já você vai lembrar sem chorar, sua respiração vai voltar e seus dias terão mais sentido. Não se preocupa. A ferida é difícil de cicatrizar, contudo talvez você tenha mais facilidade do que eu em se livrar das mágoas e seu coração estará, em breve, pronto porta viver tudo de novo.
Não se preocupa, você não vai morrer disso. Talvez uma parte você morra, mas você perceberá que tem muito mais vida ao dentro do que imaginava. Respira fundo, me dá a mão e vamos em frente.
quarta-feira, 7 de maio de 2014
A ostra
A conversa de hoje havia passado pela sua mãe, pelo fim do seu namoro e pelas mudanças que vem experimentando em sua vida, os tópicos principais se repetiam desde a primeira sessão. As brigas, o abandono, a incompreensão, o mundo desconhecido onde ela foi obrigada a caminhar. E essa sua indiferença com as pessoas que ela não reconhecia.
Me disseram uma vez que o danado do amor pode ser fatal / dor sem ter remédio pra curar, tocava na rádio, sempre nas horas mais dolorosas. Daí lembrou-se de uma frase que rondava constantemente seus pensamentos: "O que mais me encanta é que você sabe cuidar dos seus". Por isso ele acreditou, por quase quatro anos, que ela era a mulher da vida dele. Mas ela não sabia mais quem era essa mulher. Não sabia mais quem era aquela que cuidava, se preocupava, se importava. Estava difícil cuidar até mesmo dela. Não encontrava mais a mulher que se entregava de todo coração, que abraçava com força e não media esforços para ajudar quem ama.
Os amigos faziam piadas sobre o seu coração de pedra: sugeriam, constantemente, uma ida ao Mágico de Oz. Quem diria, uma ex-manteiga derretida, chorava até com propaganda de margarina, começando a sufocar com tanto choro engasgado. Não se comovia, não se emocionava, chegava a mudar de calçada quando aparecia uma flor e dava risada do grande amor (mentira!).
Criou uma armadura em volta de si. Protegia-se. Aderiu à regra do terceiro encontro: era o suficiente para que ela desanimasse e não quisesse mais. O primeiro era ótimo, o segundo ok, o terceiro nhé, era aquela hora da chuva de poréns. "Ê ê, ela não é de nada, oiá, essa cara amarrada é só um jeito de viver na pior", dizia a voz bonita.
E enquanto dirigia para casa, pensava na capacidade que sua mente tinha de destruir toda e qualquer possibilidade de conquista do seu coração. Desenvolveu uma grande habilidade auto-sabotagem, capaz de cercar esses invasores desconhecidos de defeitos (muitos dos quais puramente inventados) e destruí-los por completo.
Chegou em casa, finalmente. Só queria descansar um pouco a cabeça, que fervilhava com todo tipo de angústia. Ligou a TV em um daqueles canais que ela nunca prestava atenção, mas faziam companhia quando a solidão parecia insuportável: "A ostra é um molusco com o corpo mole, protegido dentro de uma concha altamente calcificada. Quando um parasita invade seu corpo, ela libera uma substância chamada madrepérola, que se cristaliza sobre o invasor. Depois de cerca de três anos esse material vira uma pérola.""
Percebeu então que, pelas suas contas, faltava ainda um ano e meio para que seu coração abrisse novamente.
terça-feira, 6 de maio de 2014
O uso indiscriminado de eufemismos
É o velho eu te amo, mas estou confuso; você é a mulher da minha vida, mas preciso de um tempo, hoje não dá, mas a gente vai se falando (e você fica igual um idiota esperando a ligação que nunca chega). Achando que, contando a verdade aos poucos, a dor será evitada. Mas, amigos e amigas, eu digo, não será.
Essa história de contar a verdade a conta gotas é responsável, lhes asseguro, por grande parte dos corações partidos, das feridas abertas e das relações mal resolvidas. "A verdade dói" é a maior das verdades que já escutei, mas ela dói muito menos quando contada de um vez só, sem perhaps, sem reticências.
Faço aqui meu mea culpa, pois virei especialista em meias verdades e profissional em escorregar daqui e dali, sem ter coragem de dizer o que eu realmente sinto (talvez por ter aprendido com os melhores a arte de não ser sincera com quem gosta tanto da gente), e proponho um exercício para o bem e a sanidade de todos: quando o coração não quiser mais, quando aquela companhia não for mais agradável, quando você olhar para ele ou para ela e não encontrar mais aquilo que te fez sonhar com talvez passarem uma vida juntos, não sinta culpa, ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Mas, por favor, sinceridade: eu não te amo mais; infelizmente você não é o homem da minha vida; ou, em casos de affairs passageiros, desculpe, mas não sinto mais vontade de sair com você.
Ninguém vai morrer, eu asseguro.