Eu já acreditei em amor romântico, em amor a primeira vista e em amor da vida. Hoje em dia eu prefiro só acreditar no amor, sem nenhum complemento.
Depois de uma certa idade, aprendi que esperar pelo príncipe encantado é uma ilusão, uma frustração muito grande. Ele não existe, ainda bem. Imagina que chato viver com uma pessoa perfeita, que faz tudo o que você espera. Melhor é aceitar que ninguém terá todas as qualidades que você sonha. Se ele for bonito, vai ser mulherengo. Se ele for romântico, será ciumento demais. Se ele for companheiro, vai ser preguiçoso. E assim por diante. Todo mundo tem uma bagagem, tem seus defeitos. E uma relação só se constrói a partir do momento que você resolve amar, apesar de tudo isso. Cabe a nós saber o que é essencial e o que nos faz infeliz. O resto, a gente aprende a conviver.
Percebi também o quão louca é essa ideia de imaginar que conhecerei a pessoa que me fará feliz pelo resto da vida atravessando uma avenida qualquer em um dia de verão. Pode acontecer? Claro que sim. Mas é difícil dizer que você começou a amá-la naquele instante. A paixão pode ser instantânea. Podemos nos apaixonar por um olhar, por um sorriso, por um toque. O amor, no entanto, é um edifício, uma construção. Cada dia colocamos um tijolo aqui, consertamos uma parede meio torta ali, escolhemos o melhor piso para a nossa relação. Não será naquele milésimo de segundo que seus olhos se cruzam que um raiozinho vai entrar e chegar direto no seu coração.
Por fim, aceitei que não existe um amor da nossa vida, existem amores da vida. Um amor certo para cada momento da nossa existência e que dure enquanto a relação fizer sentido. Se ela fizer sentido pelo resto da vida, ótimo. Mas se não fizer, não tem problema, outros amores virão igualmente ou mais especiais que os anteriores. É muita pressão acreditar que só existe uma pessoa certa para nós em um mundo desse tamanho. Pessoas entram e saem das nossas vidas a todo instante e algumas delas serão amores das nossas vidas.
Assim, prefiro acreditar só no amor mesmo. Sem a pressão de ter que vivê-lo até o fim dos meus dias, encontrá-lo em uma manhã de primavera cruzando o sinal ou esperá-lo chegar até mim de cavalo branco. Amor, só amor, daqueles que a gente vai juntando peça por peça no dia-a-dia, ajustando na rotina. E como bem lembrou o Poetinha, que ele não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes |
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