Confesso, nunca lidei bem com a condição de solteira. Adorava falar da liberdade e da independência, mas me desesperava em não ter para quem mandar um "eu te amo!" depois de assistir aquele filme bem meloso, ou aquela declaração de amor depois de duas taças de vinho. Ser solteira era quase sinônimo de estar só na vida, solitária, triste. Não amar ninguém me causava um vazio insuportável no peito. Não é a toa que tive alguns namoros, todos longos, intercalados por raros e curtos períodos de entresafra.
Aí a vida nos dá uma volta, nos derruba no chão e acordamos com uma visão bastante diferente. Foi assim que passei a enxergar esse estado civil como necessário para o amadurecimento. Solteiros, colocamos nossa vida sob uma perspectiva bem diferente de quando estamos em um relacionamento. Passamos a olhar para nós, a pensar no que nós queremos fazer agora, ou pelo resto da vida. Se antes eu pensava por dois, agora só
tenho que me preocupar comigo: com o que eu quero, para onde quero ir, o
que quero fazer, sem ter que pesar expectativas, sonhos ou planos alheios.
Mas não é fácil. A solteirice exige um aprendizado e, mais importante, um enorme desapego. Temos que aprender a ir ao cinema sozinhos; a comer sozinhos; a tomar um vinho em nossa companhia; a assistir seriado e morrer de rir sem precisar de ninguém do lado; a ir comprar roupas e contar só com a opinião da vendedora; a ficar sexta a noite, sábado a noite e domingo o dia inteiro lendo um bom livro, sem ninguém por perto para te atrapalhar; a dizer para aquela tia chata (olhando nos olhos dela): não, não tô namorando (sem aquela sensação de "aiiii, vou ficar pra titia!"); a ir aos casamentos dos amigos sem carregar aquela invejinha (mesmo que branca), deixando no coração só a satisfação pela felicidade dos pombinhos; e, principalmente, a não se apegar, por carência, a qualquer pão com ovo que aparece na sua frente.
Nunca serei uma solteirona conviccta, não combina comigo. Quando o assunto é amor, minhas convicções são bastante fracas. Apesar da vida ter o endurecido um pouco, ainda tenho um coração mole lá no fundo e, uma hora ou outra, alguém conseguirá alcançá-lo. Mas aprendi que não precisamos sempre do amor da vida para sermos felizes. Podemos ser com um amor do dia, da semana, do mês, de uma viagem, ou só com o amor que sentimos por nós mesmos, por nossos amigos e pela nossa família.
Entendi que coração vazio também é bom, faz circular o ar e renovar o ambiente. ;)
Eu diria na verdade que este estado de "solteirice" que você descreveu, de curtir tantas coisas consigo mesma, é um estado que não se chama necessariamente de "ser solteira", mas sim de "ser si mesma" ou de "estar consigo mesma". Por que não é possível ir ao cinema sozinha, passar alguns dias lendo um livro bom, ver um seriado sozinha, tomar uma taça de vinho sozinha, etc., estando namorando? Por que a equação "namorando" por vezes parece equivalente de "estar colado" ou de "só ser e estar se for a dois"? O problema, a meu ver, é a fantasia do amor romântico, fusional, que habita o imaginário popular e as mentes das pessoas. Afinal, lidar com o estar consigo mesmo, na presença ou na ausência de outra pessoa, é um aprendizado que nos amadurece como ser humanos - solteiros ou não.
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