Eu definitivamente não consigo entender essa mania do mundo moderno de resumir tudo em redes sociais.
Quando eu era mais nova, ia pras festinhas e o paquerinha, depois de muito ensaio para ter coragem, chegava em mim e pedia meu (pasmem)... telefone FIXO! Se ele ligava e a mãe atendia, a cara ia
no chão, a familia inteira já estava sabendo 5 minutos depois, jurando
que era namoro (enquanto eu pensava: nem beijei na boca, mãe).
Depois a tecnologia facilitou a vida dos adolescentes, evitando fuxicos
familiares: veio o celular. Ninguém precisava mais rezar pro paquera não
ligar quando a mãe estava em casa. Ele ligava, você se trancava no
quarto e a conversa fluía (ou não).
Com a evolução do celular veio a SMS. Aí a coisa começou a desandar. O
cara até pegava seu número, mas ligar nem pensar, só por mensagem.
Ligação só quando estivesse sério.
Tempos depois, veio o boom da internet com seus chats: mirc, ICQ, MSN. O número de
telefone não havia morrido, mas a primeira SMS recebida era: qual seu
nick/número/email? A conversa passava definitivamente para o meio
virtual.
E eis que depois de alguns anos fora do mercado me deparo com uma triste
realidade: hoje, nem o número do celular mais, o negócio é Facebook.
Isso, minhas caras, nem esperem que eles peçam seu número, não adianta
ficar naquela expectativa, com aquelas borboletas na barriga: será que
ele liga, será que não? Esquece. Ele vai te adicionar no "face". No
máximo, pega seu e-mail para te encontrar por lá. Mas se você mora em uma cidade ovo como a
minha, nem isso, provavelmente vocês terão um milhão de amigos em comum e
ele vai tentar te encontrar pelo perfil de um deles.
Depois, quando vocês virarem amigos de Facebook, você descobre quantos
anos ele tem, quais os amigos em comum, onde ele trabalha ou estuda, do
que ele gosta e não gosta, vê um milhão de fotos, conhece os pais e o
resto da família até o quinto grau, sabe o que ele vai fazer no final de
semana, nas férias ou até na hora do almoço. Além disso, provavelmente
vocês ficarão alguns dias conversando amenidades pelo messenger da rede
social e irão descobrir mais coisas um do outro, até ele te convidar
para sair (isso é, se ele gostar de tudo o que viu até aqui).
Aí o primeiro encontro é aquela coisa, você já sabe o suficiente dele
para eliminar aquelas conversas do tipo "o que você faz da vida?", e blá
blá blá. Mas não o suficiente para tocar em assuntos polêmicos,
poéticos, políticos, filosóficos. Silêncio constrangedor é o que define,
na maioria das vezes, ou você finge que não vasculhou a vida do rapaz e
pergunta sobre o que já sabe.
Cabô, gente, cabô frio na barriga, cabô sedução, mistério. O primeiro encontro
só acontece depois da certeza de vocês terem um mínimo em comum. Os
próximos, só depois da certeza, conseguida por mais papo pelo messenger,
whatsapp ou SMS (telefone nunca!), de terem agradado no primeiro. Se ambos gostaram, provavelmente conversarão todos os dias por esse meio virtual até o próximo encontro e saberão ainda mais coisas um sobre o outro. Acabou
aquela ansiedade, misturada com expectativa: será que ele liga de novo?
O triste disso tudo é que tanta facilidade elimina grande parte do contato físico, do olho no olho, das pernas bambas que a boa e velha conversa face-to-face traz. Aí você acaba ficando com preguiça do rapaz por alguma coisa que ele falou pelo whatsapp (provavelmente algo que você entendeu mal, pois nesses meios é difícil saber se a pessoa está falando sério, brincando ou sendo sarcástica), ou ele cansará de ver você reclamar da vida (porque ele resolveu conversar com você todos os dias, durante a sua TPM), ou um dos dois terá alguma impressão equivocada do outro por uma publicação de status no Facebook. Quer dizer, tudo se resume a meras especulações virtuais e ninguém se conhece direito.
Quem me conhece, sabe o quanto sou adepta às redes sociais. Mas em
matéria de conquista, acredito no antigo, ou melhor, no retrô. Custa nada, gente, dar
uma ligadinha, chamar para tomar um café para se conhecerem melhor.
Depois parte para o face, não tem problema.
Essa nossa mania de pegar o caminho mais curto está eliminando qualquer
possibilidade de um pouco de poesia e emoção nas nossas vidas. Afinal,
quem é que não gosta de um mistério, de um joguinho de conquista?
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