Parece que tudo que toca no peito transborda:
em lágrimas, sorriso e afeto.
Sonhei com um passado distante,
que de tão distante virou uma nova história.
Ontem mesmo eu conversava sobre o perdão:
ele não precisa ser para os outros, mas para nós.
E também pode vir em partes e em sonhos.
Nessas horas eu lembro das quantas quedas levei
nos meus poucos 30 e poucos anos.
De todas as vezes que eu achei que não ia conseguir levantar
e levantei.
Lembro de tudo que aprendi naquele dia:
sobre deixar passar e permanecer.
Foi nesse dia que eu aprendi, também, a transbordar.
Ainda que eu não seja mais afeita às grandes paixões,
aos grandes amores, a essa falta de ar que as pessoas tanto anseiam por sentir.
Mas continuo afeita ao amor e espero que ele venha de tantas formas
que sou incapaz de enumerá-las aqui.
Lembra quando eu disse que meu amor é amor de rede?
Elxs nunca entenderam,
confundem amar com calma com amar pouco, ou amar friamente (se é que isso é possível).
Acontece que pra mim o afeto só funciona com leveza,
com gosto de chá de camomila
e cheiro de livro novo.
E esse afeto é tão capaz de transbordar quanto qualquer outro:
aquece, enche, inunda e espalha por aí.
Ele me dizia que tenho em mim todos os sentimentos do mundo.
Não, não são os sonhos, são os sentimentos.
Os sonhos, quem dizia, era o poeta.
Às vezes eu acho que deixei de ter sonhos,
para dar espaço aos sentimentos.
Talvez porque os sentimentos são mais presentes, eu consigo até mesmo tocá-los.
Sonhos estão tão distantes que só serviriam para aumentar minha ansiedade.
Ele também me ensinou a não ter medo de transbordar.
Que o que sai de dentro do meu peito é meu,
não tem validade, nem limite, não vai gastar.
Mas pode ser tarde demais.
"Mostre para uma pessoa que gosta quando ela chega,
não quando ela vai", li outro dia.
Era isso que você queria me dizer, né?
Eu só não sei o que faço quando as palavras me faltam
(elas faltam constantemente, ainda que você não acredite).
"deixe-se inundar", "deixe-se inundar", "deixe-se transbordar",
você sussurra.