Foto: Elena Mitsura (https://www.flickr.com/photos/exage) |
Os livros estavam espalhados pela mesa da sala, o controle da TV ao seu lado, precisava preparar a comida para o dia seguinte e colocar a roupa para lavar. Mas nada, simplesmente nada a fazia ter vontade de levantar dali. Ficava presa aos seus pensamentos, devaneios e desejos secretos. Tanta coisa para resolver, mas sua cabeça continuava alimentando aquele turbilhão de dúvidas e angústias. Estava sem forças para a vida. Faltava-lhe o essencial.
Cozinhava, sorria, escrevia, fotografava, conversava e até discutia com amor. Custava-lhe, entretanto, viver o desamor. Para ela, se amar era mudar a alma de casa, a falta de amor era desabrigá-la, desalojá-la e abandoná-la ao relento. Viver atrás desse amor, como quem procura um cantinho para se esquentar, para acolher o coração, vinha sendo a missão mais dolorosa de sua vida.
Ela revolvia as lembranças, as fotos, os papéis, o passado, tentando entender o porquê de estar sempre correndo atrás de algo que não lhe pertence. São anos nesse papel, talvez tenha começado antes mesmo de nascer. Verdade é que buscava esse amor em todos os cantos da sua alma, em todas as suas relações e até na função que achava que deveria desempenhar no mundo.
Seus fantasmas a atormentavam insistentemente. Provocavam, cutucavam a ferida mal curada, novamente exposta, ardendo. Ela não encontrava mais o remédio no mundo. O coração pulsava a duras penas tentando manter alguma vida ali dentro.
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