quinta-feira, 23 de abril de 2015

Queria gritar



A vida havia entrado em um emaranhado de acontecimentos penosos, difíceis de lidar. Não era uma montanha russa, parecia mais queda livre em um abismo sem fundo. Precisava de uma trégua, apertar o botão de pausa, respirar fundo, aliviar a cabeça e o coração.

A pressão era interna. Não foi fácil criar essa imagem de mulher independente, forte, determinada. A rocha, que dá conta de tudo sozinha. A mulher maravilha. Essa que cuidava de todos e não se deixava cuidar por ninguém. Que levava bronca da analista, do astrólogo, da terapeuta. Mas difícil mesmo era admitir a falta que faz um abraço, um colo. Admitir a saudade, a vontade de estar junto. Aqueles momentos que só um aconchego salva.

Ia, então, empurrando seus dias com a barriga. Sem sono, sem fome, sem ânimo. Colecionava mensagens não retribuídas e perguntas não respondidas. Procurava preocupações, alguém precisasse de sua ajuda para que ela não necessitasse olhar para dentro e admitir que não dá conta sozinha. Escondia-se nas necessidades alheias e transformava suas angústias em brigas desnecessárias para não precisar dizer: eu preciso de você. Porque, no fundo, não admitia precisar.

Queria gritar. Mas preferia escrever.

sábado, 4 de abril de 2015

Pra sempre







Assim como você, nunca fui muito de religião. Minha relação com essa energia maior foi sempre muito particular, mas acredito que nada acontece por um acaso.

Você entrou na minha vida por um motivo muito específico, em um momento que eu precisava tanto, mas não percebia. E fez tudo o que poderia fazer por mim sem nem saber o quanto me deixava bem.
Você foi embora desse mundo por um motivo também. Para unir mais as pessoas como você sabia fazer em vida, para mudar as dinâmicas de relações desgastadas pela vida, para reunir uma quantidade enorme de amor que nem você imagina.

Sempre vou lembrar de você falando pra eu me preocupar menos com as pessoas e absorver menos a más energias dos outros. A saudade que sinto é inevitável, mas ficarei bem como você gostava de me ver.

Eu sempre vou lembrar do seu carinho, do seu colo e das vezes que você me trouxe pra casa quando eu não estava bem.

Sempre vou lembrar das nossas tardes de sol, do seu risoto, da moqueca e do bolo de aniversário que veio com uma casa emprestada junto.

Eu sempre vou lembrar de você com seu balde amarelo no Picknik e da nossa primeira de taça de champanhe no CCBB. Foi amor à primeira vista, lembra? (Mesmo você tendo esquecido meu nome depois)

Sempre vou lembrar de você me ajudando com a mudança, furando parede e carregando minha TV. Me xingando de todos os nomes, mas fazendo tudo na maior boa vontade. 

Eu sempre vou lembrar quando falava pra você passar no concurso do Rio Branco, a gente casar e eu poder conhecer o mundo. Assim a gente não se separava e poderíamos continuar nos divertindo como sempre. Até o dia que percebemos que o nosso amor de irmão não nos permitia uma convivência tão intensa. Seria melhor cada um no seu canto, mas sem deixar de conversar um dia sequer. 

Eu sempre vou lembrar de você quando eu ver gente falando atrocidades na internet. Gente preconceituosa, homofóbica, racista. Gente sem humanidade. Sou até capaz de entrar nas discussões que você entraria, só não sei se consigo com tanta genialidade como você fazia. Saiba que vou sempre te defender até o fim.

Eu sempre vou lembrar do seu sarcasmo, das suas piadas e do tanto que você me fazia rir. Da maneira como você tentava fazer com que as pessoas ficassem mais leves.

Realmente não sei como vai ser ficar sem trocar mensagem com você todos os dias ou sem ouvir a sua voz. Não sei como serão os finais de semana sem você nas baladas, nos almoços, nos jantares. Não sei como serão os dias de sol sem seus convites para o SUP.

Sei que você deixou um pedaço tão vivo de você dentro de cada amigo, que uniu nossos corações com um amor imenso e uma vontade de te ter sempre por perto. Você foi especial e continuará sendo dentro da gente. Fica bem, meu bichinho. Continuo por aqui. Olha por nós. <3