Era o tipo de afirmação que fazia parte do seu charme, mas cansava com o passar do tempo. Essa mistura de falsa modéstia com vontade de impressionar o levava a falar sobre coisas que não sentia realmente. Ela não lhe dava mais crédito, havia se iludido demais com suas frases de efeito. Olhou para o lado, levantou-se da cama e muou de assunto. Enquanto caminhava para a cozinha pensou no que gostaria de ter respondido:
- Você sabe muito bem que me apaixonei. Paixões, no entanto, são fogo: aquecem, confortam, queimam, machucam e basta uma ventania para levá-las embora. Você soprou forte demais.
Não respondeu. Assim como não falou sobre o incômodo de nunca sentí-lo entregue a ela quando estavam em público, como acontecia entre quatro paredes. Estava sempre só, com a sensação de precisar pedir carinho e atenção. E há tempo havia desistido de lidar com quem tinha dificuldade para ser espontâneo em seu afeto.
Também guardou para si a falta que sentia daquela paixão, daquele frio na barriga toda vez que escutava sua voz, daquela falta de ar que tinha quando o abraçava forte. Uma saudade paradoxal do sentimento que deveria ser mútuo, mas havia vivido sozinha, e mesmo assim a fez muito bem.
Respirou fundo, bebeu um grande gole d'água e voltou para a cama com o copo cheio, a garganta entalada e o coração vazio.
O sol entrava pela janela, batia na persiana e desenhava listras de luz por todo o quarto. Os dois comentavam como sempre era tão gostoso aquele emaranhado de pernas e braços, a respiração sincronizada e o calor dos corpos juntos. O dia estava lá fora, sol quente e céu azul, e eles se recusavam a levantar: só mais cinco minutinhos. Ele fazia questão de dizer como as listras ficavam bonitas no corpo dela. Ela sorria, sentia-se realmente bonita com ele. Os cinco minutos viravam uma hora. Ao menos ali, naquele ninho, nada havia mudado.
Mas o verão ainda estava lá fora.
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