terça-feira, 8 de julho de 2014

Ainda está tendo Copa!

É, gente, o Brasil perdeu. O hexa não veio, mais uma vez. E eu, que tanto não quis Copa, me rendi ao espetáculo. Religião? Não, se tem uma verdade nesse país é dizer que "o futebol é o ópio do povo", durante noventa minutos

Resisti até o último segundo. Não falei antes, não comprei ingresso, nem camisa eu tinha. Não durei um dia de Copa. Primeiro jogo estava eu lá, torcendo, sofrendo, querendo entrar em campo. Não consigo, a minha nação, a minha bandeira falam mais alto.

E aí, nossa seleção, que entrou desacreditada (como quase sempre), foi muito mais longe do que esperávamos. Foi muito, muito sofrido. Teve empate, pênalti, gol anulado, gol contra, teve Neymar fora. Acabou em goleada histórica. E eu chorei. Chorei por quem estava grudado na TV, acreditando que mesmo com toda dificuldade ganharíamos. Chorei por aquele velhinho que circulou no Facebook segurando a taça, chorei pelo David Luiz que queria dar uma alegria para os brasileiros. Chorei pelo Júlio César que fez tão lindamente no jogo contra o Chile, chorei pelo Neymar que não pode realizar seu sonho. Chorei por aquele monte de gente que estava agarrado na camisa, no camarotes do estádios ou no interior das regiões mais pobres. Chorei pelas crianças da propaganda da Sadia e as crianças do Brasil. Chorei como eu choro com todos os problemas que temos, como eu choro ao ver crianças na rua, mulheres sendo espancadas, homossexuais sendo assassinados. Chorei como eu choro ao ver pessoas morrendo em corredores de hospitais públicos, ou de fome e de sede no sertão. Chorei pelas cores do meu país, pela minha bandeira, pelo nosso orgulho. Chorei pelo meu amor a esse país.

Mas eu também dei muita gargalhada, porque a Copa virou a Copa dos memes. Porque, enquanto meu coração estava apertadinho de tristeza pela seleção, meu celular não parava de apitar com milhões de imagens e vídeos engraçados sobre a nossa derrota. E aí, mais uma vez, foi uma gargalhada de orgulho, pela nossa capacidade de não nos deixar abater, de pegar os limões e fazer um deliciosa caipirinha.

Para o Brasil, acabou, mas a Copa ainda está aí. Como bons brasileiros ainda nos resta aquela secada saudável na Argentina, tri no Maracanã não dá. Ainda nos resta terminar a Copa do mesmo jeitinho que ela começou, sendo a Copa das Copas. Não porque a FIFA quer, mas porque nós fizemos isso.

E quando a Copa acabar, vai deixar uma saudade imensa no nosso coração. O Brasil não levou, mas nós, brasileiros, levamos, por tanta alegria e receptividade. Bem que a gente queria estatizar a FIFA, fazer Copa todo ano no Brasil, com turno e returno. Não dá.


Nós prometemos manifestações durante o torneio. E demos sorrisos, abraços, amizade, festa e alegria. Mas os problemas continuam onde sempre estiveram. Os aeroportos estão reformados e os estádios de pé, mas os hospitais e as escolas continuam precários. O transporte público continua não funcionando, a segurança então, nem se fala. Nossos políticos ainda são corruptos, nossa desigualdade ainda é das maiores do mundo. Nós ainda continuamos subornando policiais e furando filas. Ainda falsificamos carteirinha de estudante. Ainda trocamos votos por favores. Nosso país ainda é racista, homofóbico e machista. E, pior, nós, que sempre fomos acusados de passividade política e falta de engajamento, nem podemos mais ir às ruas exigir nossos direitos. Não, ao menos, sem ter que correr da polícia ou respirar gás lacrimogêneo. Viramos vândalos, criminosos, vagabundos.

Apesar de tudo, sabe o que essa Copa mostrou para mim? Que somos patriotas sim, somos muito patriotas. Somos patriotas com ou sem Copa. Nós fizemos a Copa mais linda da história, mas estivemos dispostos a abrir mão dela pelo país. A um ano atrás essa paixão que nos fez chorar diante da TV hoje, estava nos gritos de protesto que pediam transporte público mais barato, saúde, educação e exigia nosso direito de protestar. Isso é ser brasileiro. É essa paixão, essa vontade de mudar, de fazer diferente.

Não foi a Dilma, não foi o PT, não foi o Aécio, nem o Fred, nem o Zuñiga, muito menos o Felipão culpados pela nossa derrota. Aconteceu, não funcionou e isso é esporte. Não existem mocinhos e bandidos e precisamos parar com essa mania de procurar os heróis e o vilões. Precisamos parar misturar futebol e política, a Copa não vai decidir as eleições.

Faltam quase 80 dias ainda. Temos um monte de candidatos para analisar e debates para assistir. Amanhã a dor dessa derrota passa, mas vamos enfrentar uma batalha muito maior: decidir o futuro do nosso país. A minha sugestão é esquecer se você é azul ou vermelho, pegar a camisa verde e amarela e toda essa paixão pela nossa bandeira e amarrar nessa decisão. Vamos pegar esse nosso entusiasmo e esse orgulho de cantar "sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor" e colocar no nosso direito de exigir nossos direitos. Toda essa boa vontade que tivemos para receber os estrangeiros, vamos usá-la para cobrar nossos governantes, para escolher bem os que entrarão.

Vamos, vamos mostrar para o mundo que somos Brasil dentro e fora do campo!

À seleção, obrigada pela luta, pelo choro, pela humanidade. Obrigada pelas demonstrações de afeto e pela simpatia. Não estamos tristes com vocês, estamos tristes JUNTO com vocês.

E peço licença pelo merchandising, mas nossa publicidade na Copa também ganhou:








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