quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Todo mundo precisa enlouquecer


Precisa mesmo. Perder a razão, o controle das emoções, tirar os pés do chão. Pirar. Ficar piradinho da Silva. Fazer loucuras de amor, enfrentar os medos, desafiar perigos. Se soltar. Jogar tudo pro alto, desapegar, tocar o foda-se.

Todo mundo precisa mesmo se descontrolar, errar, cair, fazer uma merda muito grande.

Porque só assim podemos dizer que vivemos.

sábado, 24 de novembro de 2012

Reflexões

Ele constatou que, por mais que sinta falta, prefere viver sem ela. Só assim pode viver em seu mundo, sem interferências.

Ela constatou que, por mais difícil que seja viver sem ele, não sente falta. Só assim pode ser amada de verdade.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Sonhos roubados

Eu tinha um sonho e tiraram ele de mim sem me avisar. Arrancaram a força, sem nem me darem a chance de tentar segurá-lo.

E o que me restou?

A vontade de ter outros sonhos.


De duas mil toneladas

Ela era leve. Leve, colorida, sorridente.

Ele era pesado. Pesado, monocromático, carrancudo.

Por um tempo a leveza e o peso se equilibraram, as cores se misturaram e as expressões tornaram-se parecidas.

Por um tempo ela tentou colocar cores nele, não conseguiu. Tentou arrancar sorrisos, não conseguiu. E foi muito, muito pesada.

Enquanto ele não queria perder o peso, não queria cores na sua vida, muito menos sorrisos. Queria o que ele queria. Sem espontaneidade, sem emoções muito forte. Tudo sempre muito cinza, sem vida.

E ela, em sua luta, se perdeu de suas cores. Perdeu sua leveza e sentia o coração cada dia mais pesado. Perdeu seus sorrisos, sua espontaneidade e sua vontade de viver a vida.

Mas aí um dia, um belo dia, aquele dia que nos pensamentos dela seria o último de sua vida, ela renasceu. E suas cores voltaram, junto com seu sorriso. Ela tirou os pés do chão e reaprendeu a voar. E percebeu que não merecia ficar ancorada em um amor de duas mil toneladas.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ela não falava com estranhos.

Ela não falava com estranhos.

Nunca falou, por puro respeito a ele
Ou por medo, quem sabe.

Sabia que se falasse eles iam querer sempre mais,
Sempre mais um pouquinho dela,
Aí ela seria obrigada a falar cada dia mais com estranhos
E menos com ele.

Mas eis que, sem nenhuma escolha, ela foi obrigada a falar com estranhos.

E gostou.

Gostou tanto que quase não se lembra mais dele. Pelo menos tenta não se lembrar.

Simplesmente porque ele tornou-se o mais estranho de todos, o mais distante, o único que ela não entende.

Enquanto isso, os outros estranhos a enxergam e a envaidecem. E ela gosta, gosta muito dessa brincadeira.

De mechas novas, frase nova e o coração aberto, ela quer só falar com estranhos agora. Porque só eles conseguem dar a ela o que ela sempre quis dele, e ele nunca percebeu.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A hora da lagarta

Justo quando a lagarta pensou que o mundo tinha acabado, ela virou uma borboleta.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Minha cidade é pálida

É difícil admitir, mas Brasília é pálida. Cada dia mais pálida.

Mesmo que ela tenha o céu mais azul que eu já vi, os ipês roxos, amarelos, rosas, o pôr-do-sol cada dia de uma cor. Ela é pálida.

Ainda que ela tenha sido criada a partir da explosão de diferentes culturas, ritmos, cores, sons e sabores. Ela é pálida.

A minha cidade, que um dia foi para mim um lugar de múltiplas possibilidades, apaga-se diante de mim a cada momento. Torna-se opaca, sem graça. E nem mesmo a fotografia já me atrai tanto. A paisagem não muda, as pessoas não mudam, os assuntos não mudam.

Brasília, tadinha, carrega um estigma desde sua criação: uma cidade de funcionários públicos, construída para servir ao governo. Assim, foi tudo jogado em uma cesta: suas cores, suas pessoas, seus sabores, sua diversidade e seu potencial criativo. Tudo feito para servir a burocracia e nada além disso é aceitável. É tudo igual, sempre. E sempre será tudo igual. Cada dia mais igual.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Entre amar e ser amado

Foto: https://www.flickr.com/photos/drbillydude/


Enquanto alguns acreditam que o difícil é amar e ser amado, acredito que esse talvez seja o menor dos problemas.

Num mundo tão cheio de possibilidades, o difícil mesmo é conciliar medos, ansiedades e expectativas.

E nós, que somos criados na base das histórias de príncipes e princesas, acabamos tendo que admitir: só amor não basta. O amor move barreiras sim, mas até o limite do que é suportável para ambas as partes. O amor salva sim, mas só quem está disposto a ser salvo pelo amor.

Invariavelmente, chega uma hora que a equação torna-se muito maior: o que eu espero + o que você espera + capacidade de lidar com diferenças e frustrações + medos + angustias + sonhos... Tudo isso reduzido a um mínimo múltiplo comum é que vai resultar em uma relação que realmente dê certo.

Ainda acrescentaria mais algumas variáveis: companheirismo, respeito, capacidade de entender o outro, de cuidar e se deixar ser cuidado. Sim, porque carinho, cuidado e segurança são como o amor, vias de mão dupla.

E então, só depois de tudo muito bem ponderado e balanceado, pode-se dizer que existe uma relação de verdade. Baseada no amor, mas sustentada por várias outras coisas.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

essa dor


Não dá para dizer onde ela começa, nem onde ela termina. Não dá para estimar o quanto dela é física, o quanto não é. É uma dor que arde, toma todo o ar, tira a fome e o sorriso do rosto. É covarde, cruel, intensa.

Não existe remédio. Ou melhor, existe, mas ele é demorado e tão doloroso quanto a própria dor: o tempo. Só ele para conseguir sumir com ela em doses homeopáticas. Só ele para jogar para debaixo do tapete, ou guardar bem no fundo de uma gaveta, tudo o que deve ser esquecido.

Difícil mensurar o tamanho da dor, como enxergar a dimensão do vazio? Mais difícil ainda é saber o que o tempo fará com ela...

Colocar um pouco de sofrimento no papel pode não acabar com ele, mas ajuda a enfrentá-lo e a entendê-lo. Talvez nem o próprio tempo ajude a acabar com toda essa dor, só ajude a conviver com ela. Mas isso só o próprio tempo tem a resposta...

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Era essa mulher.



“Quando foi que você se tornou essa mulher e eu não vi?”. Não viu porque não quis, pois ela esteve ao seu lado por alguns anos. Ali, bem do seu ladinho, te apoiando, te aconselhando, te dando suporte nas angústias, nas dúvidas e nas decisões mais difíceis. Sempre ao seu lado.

Era essa mulher também que estava ao seu lado nas viagens deliciosas que vocês tiveram: NY, Buenos Aires, Inhotim, Campos do Jordão, para citar algumas. Era ela quem te empolgava e planejava tudo, pois sabia que não podiam depender da sua enrolação. Era ela quem adorava fazer tudo isso, pois o esforço sempre foi recompensado.

Era essa mulher que investia em roupas e lingeries, que tentava descobrir tudo o que você gostava para usar entre quatro paredes. Era ela que estava ali no momento mais íntimo de vocês, em todas as vezes que você disse o quanto ela te fazia feliz, em todas as vezes que você deu aquele sorriso que só ela conhece, lembra?

Era essa mulher que ouvia você dizer o quanto tinha certeza e segurança de serem felizes, pois nunca havia encontrado alguém que encaixasse tão bem em você. Foi para ela que você, uma vez, confessou que ficaria feliz de ter um “bacurizinho” de vocês correndo por aí. Era para ela que você dizia o quanto era bom estar em um relacionamento onde duas pessoas se entendem tão bem, se compreendem no olhar, discutem sem brigar, se abrigam tão bem no colo do outro.

Foi essa mulher que sempre lutou para ser mulher, pois sabe o quanto você não suporta meninas. Sabe o quanto você não suporta nhenhenhes, mimimis, insegurança, ciúmes, discussões bobas, brigas sem motivo. Foi ela que sempre soube como falar sério com você e se posicionar, sem declarar uma guerra mundial. Ela, que sempre fez questão de ser uma MULHER, em caixa alta mesmo, para nunca te dar motivos de se arrepender por estar ao lado dela.

Foi essa mulher que você largou ali, sem nenhuma explicação. Foi essa mulher com quem você terminou tudo dizendo que ela era a mulher da sua vida, dizendo que sabia que ainda ficariam juntos. Foi pra ela que, no dia seguinte, você mandou uma mensagem dizendo que havia se arrependido de tudo o que fez. Essa mulher, ela continua aqui, cada vez mais mulher. E você, cada vez mais menino.