Enquanto eu assoprava para tornar aquela queimadura menos agressiva, você tocou o meu rosto e disse: ninguém no mundo me faz feliz como você. Nem ousei levantar os olhos, sabia que não era verdade. Gabava-se de ser reservado e retraído, mas as palavras te saiam perfeitamente claras quando percebia que eu estava escorregando das suas mãos. Calava-se novamente quando sentia minhas mãos quentes encostando no seu corpo depois de alguma das suas promessas irrealizadas. E eu, tão apegada a paixões, me deixava levar por frases vazias.
Esquecia de todas as vezes que fiquei te esperando e você não apareceu, de todas as desculpas para não me encontrar, de todas as vezes que você voltava me prometendo a eternidade e não me dava um segundo. Sexta-feira a noite e eu estava ali, novamente, esperando a ligação que nunca aconteceu. Esperando que você me chamasse para aquele show que falamos em ir juntos. Ou que quisesse terminar os episódios daquele seriado que começamos a assistir. Nem o meu "oi" tinha resposta.
Suas fotos e comentários eram recados claros: estou em outra (ou em outras). "É um babaca", eu pensava, "não tem coragem de dizer na cara, prefere as indiretas". Que tola! Continuava achando que você fazia algo para me atingir quando, na verdade, você passava dias sem lembrar que eu existia. Aí, em algum fim de tarde de inverno, aparecia dizendo que precisava de uma xícara de chá para aquecer o coração. Mas a única coisa que você queria aquecer era seu corpo. Mesmo assim, eu preferia acreditar nas falsas promessas e nas gotas de atenção a ter que lidar com a xícara vazia novamente.
Tantos litros de chá depois e incontáveis queimaduras, eu percebi que, no fim, não era você que fazia eu me apaixonar, era a minha solidão que me fazia desejar ter alguém em quem pensar. E quanto mais longe você ficar, mais preenche meu vazio.
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