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Ele sempre dizia que amizade entre homem e mulher não existia sem algum interesse. Ela achava bobagem, ciúmes bobos dos seus amigos. Demorou mais de dez anos para aprender que ele tinha razão, mas que ela também não estava errada em acreditar nesse tipo de amizade.
Naquela época, viviam um desses amores adolescentes
avassaladores. Mãos dadas na escola, beijo roubado atrás do muro, buquê de
flores na sala de aula, poemas e cartas de amor. Dessas paixões que deixam sem
ar, fazem a perna tremer e a barriga coçar de tanta borboleta.
Como todo fogo que acende rápido, poderia ter acabado
rápido. Mas durou uns bons anos, nos quais eles riram juntos, choraram juntos,
brigaram juntos, aprenderam juntos, viveram juntos uma das fases mais
importantes de suas vidas. E conseguiram uma cumplicidade tão grande que muitos achavam que eram irmãos e se assustavam quando os viam se beijando.
Enfim, uma hora os caminhos tomaram direções diferentes. Era
bom estar junto, mas não era mais suficiente. Talvez, por isso, o carinho que
cultivaram ao longo dos anos ficou guardado em algum lugar seguro. Então, por
mais que a vida os levasse para outros lugares, outros amores e outras
experiëncias, estavam sempre por perto, mesmo que fosse à distância de um toque
de telefone. Podiam ficar semanas, meses e até anos sem se ver, mas uma hora ou
outra se encontravam, colocavam a conversa em dia, riam e se ofendiam
mutuamente como dois bons e velhos amigos.
Um dia, saindo do bar com amigos em comum, ela escutou de
uma amiga: "vocês tem tanta conexão, que pena que não deram certo, que
pena que todo aquele amor acabou". Ela parou, refletiu e concluiu que, na
verdade, o amor não acabou, há quinze anos aquele amor existe, só que de uma
forma diferente: mais estável do que a paixão adolescente e mais tolerante do
que o amor entre um casal de namorados. Ele se transformou em uma amizade
sincera, franca e transparente. Em um carinho enorme, que sobrevive ao tempo e
às circunstâncias. Em um cuidado mútuo que se percebe em cada troca de palavras,
brincadeiras e convites para uma cerveja.
E dentre todos os amores desfeitos e tantas decepções
vividas que ultimamente a deixavam tão desanimada, ela sentiu uma alegria
gostosa ao entender que esse foi o primeiro amor de verdade da sua vida e o
único que permaneceu. Com ela, esse sentimento ficará guardado em um lugar muito especial
para que não se perca também, para que não vire apenas mais uma lembrança em
sua vida, mas continue presente, por tempo indefinido.
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